Cavaco e agricultura, após o X Governo Constitucional
O que segue abaixo, escrevi para
as minhas memórias há dois anos atrás. Hoje, após o discurso de Cavaco Silva, ontem
nas comemorações do Dia de Portugal em Elvas, onde afirmou que desde sempre
defendeu a agricultura, porque deve estar a falar para o Primeiro Ministro,
assim como para as pessoas da idade deste governante, que quando se deu o 25 de
Abril de 1974, apenas tinha 4 anos de idade e como tal, apenas e só, sabe o que
aprendeu na JSD, onde lhe fizeram uma lavagem ao cérebro de galinha, que tem na
sua cabeça.
Quando Cavaco Silva é acusado de
destruir a nossa agricultura, as nossa pescas e a nossa indústria, é a
realidade pura e dura. Nunca entrou tanto dinheiro em Portugal para abater barcos
de pesca, destruir pomares de fruta, e a agricultura em geral. Passamos a ter
mais terrenos baldios, devido ao abandono da agricultura, porque os donos dos
terrenos receberam dinheiro, para abandonarem a lavoura.
Hoje pesa-lhe a consciência (para
não dizer outra coisa), pelo erro que cometeu, mas o dinheiro fácil, que então
recebeu, não lhe pesou nas algibeiras.
O discurso de ontem, apenas e só
serve para tentar atirar areia aos olhos dos portugueses mais novos, que não
passaram por esse tempo, com idade de trabalho, porque quem estava a trabalhar
e a labutar pelo pão de cada dia, sabe perfeitamente, que este senhor é um
mentiroso, quando diz que a agricultura sempre foi uma prioridade da política
dele. Isso é falso, não passa de uma mentira escandalosa.
A Europa pode ter melhorado a
agricultura, pois nós passamos a importar muito mais que o que importávamos,
para eles foi bom, deram dinheiro em determinada altura, para o receber agora
com juros elevados.
Ainda há poucos anos atrás, 4 ou
5 anos, a Comissária Europeia da Agricultura, pretendia acabar com o nosso
vinho e o Governo de José Sócrates, opôs-se com toda a veemência e não
permitiu, porquê?
Porque esse era o interesse de
França e Espanha, mas batemos o pé e levamos a nossa adiante.
Esta é a verdade que os jovens
não conhecem, e que o Presidente que está com a consciência muito pesada, quer
dizer que não foi bem assim. Isso não sai da história, nem que ele viva muitos
anos mais.
REGRESSO AO PASSADO
Voltando
ao passado e até ao X Governo Constitucional.
Todos
esses governos tiveram políticos bons e maus, como acontece em todas as
profissões. Exacto, em todas as profissões, porque cá no nosso burgo, existe
demasiados políticos profissionais, pessoas que fizeram carreira. Pessoas que começaram
nas “jotas” de cada partido político e nunca trabalharam na vida. Acabaram os
estudos e passaram imediatamente a exercer cargos partidários, primeiro na
juventude (…) qualquer coisa, depende do partido político e mais tarde já no
próprio partido. Esses senhores aproveitaram-se da política para se governarem
e não para servirem o país, onde nasceram. Pessoas, que apenas pretenderam ter
o poder na mão e que quiseram o protagonismo do cargo para poderem mais tarde
ter cargos de administradores em empresas públicas ou privadas. Pessoas que
fizeram Leis para proveito próprio, como por exemplo, terem direito a reforma
ao fim de dois mandados de deputado, ou outro cargo político.
Entre
o primeiro Governo Constitucional em que Mário Soares foi Primeiro-ministro,
houve mais nove governos Constitucionais, até que Aníbal Cavaco Silva tomou
posse como Primeiro-ministro, do décimo Governo Constitucional.
Vamos
analisar cada um deles com mais pormenor.
ANÍBAL CAVACO SILVA
A
6 de Novembro de 1985, ganhou as eleições o PSD, tendo o seu Presidente Aníbal
Cavaco Silva, sido convidado para o cargo de primeiro-ministro.
Com
a entrada na então CEE, Comunidade Económica Europeia, começamos a destruir a
nossa agricultura e as pescas, em troca recebemos muito dinheiro para abandonar
a agricultura e abater barcos de pesca. Na altura, foi dito que havia países
que produziam e outros que pescavam e como a economia era comum, não fazia
sentido também produzirmos. Erro que muito mais tarde a mesma pessoa reconhece
e diz que devemos voltar às terras de cultivo e às pescas, para sermos menos
dependentes de terceiros. E assim perdemos uma parte da nossa independência
alimentar, pois importávamos muito menos produtos nessa altura.
Hoje,
devido às políticas do passado, temos de importar praticamente tudo, o que seja
alimento para as pessoas, desde milho, até à fruta, tudo é importado. Não somos
auto-suficientes em nada, tudo o que produzimos não chega para alimentar o
país. Nas pescas, também somos deficitários, abatemos barcos de pesca e hoje,
já não existem tantos pescadores como há anos atrás. Daí que, a produção não
chega e temos de importar de Espanha e de outros países, bastante peixe. Não
falo de bacalhau, esse peixe está limitado a quotas de pesca e necessitamos de
comprar a outros países, porque em Portugal existe mil e uma receitas de
confeccionar bacalhau!
Começaram
nesse governo as Parcerias Público-Privadas. Constrói-se hoje e paga-se no
futuro, usamos já e vamos pagar anos à frente. Pomos os nossos filhos a pagarem
o que nós mandamos construir hoje.
Arranjou-se
na Assembleia da República Leis para benefícios de todos os políticos, como por
exemplo subvenções vitalícias, independentemente de a pessoa ter ou não
abandonado a política. Era um direito adquirido ter a subvenção para
complemento de ordenado, fosse o montante que fosse. E assim ao longo dos anos,
fomos pagando aos nossos políticos subvenções e reformas sem terem idade para
tal. Também foi criado o subsídio de reinserção, para quando um deputado ou
governante deixa o cargo, se poder adaptar à vida privada. Até parece que ser
político, deixa a pessoa fragilizada, mas é exactamente o contrário que se
passa. Sendo político, todas as portas se abrem para um futuro risonho.
Com
o Cavaco Silva a primeiro-ministro, rodeou-se de gente que mais tarde veio a
dar muito que falar, tais como Duarte Lima, (preso por burla ao Banco Português
de Negócios, (BPN) acusado da morte de uma cidadã portuguesa residente no
Brasil, para lhe ficar com mais de 5 Milhões de euros), aliás, reincidente em
acusação pelas autoridades portuguesas de actos menos lícitos.
Manuel
Dias Loureiro, ministro de Cavaco Silva, indiciado por desvio de dinheiros do
BPN, entrou para a política pobre a saiu da vida política muito rico. Tem um
“Resort” em Cabo Verde, onde passa parte da sua vida. Também tem muito dinheiro
em paraísos fiscais, à nossa custa, pois somos nós cidadãos que estamos a pagar
as burlas que foram feitas no BPN.
José
de Oliveira e Costa, ministro de Cavaco Silva, Presidente do BPN, roubou quanto
pode, foi preso constituído arguido, mais tarde foi libertado, com pulseira electrónica
e continua aguardar julgamento, ou melhor o Tribunal disse-se incompetente para
julgar o caso e absolveu Oliveira e Costa e Dias Loureiro, tendo a Procuradoria
recorrido da decisão da juíza. No entanto, existem mais acções judiciais e a
Procuradoria-Geral da República, continua a querer que seja julgado e os seus
bens foram todos penhorados, assim como, está a ser posto em causa o divórcio e
solicitado a sua anulação, para que possam ser arrestados os bens que foram
colocados em nome da sua ex-mulher. Este caso ainda está longe de terminar,
muita coisa se há-de apurar, tanto contra ele, como contra outros devedores do
BPN, que nesta data são muitos e o montante em dívida muito elevado. Mas como
sempre, a culpa vai morrer solteira, e possivelmente, não irá haver condenações
por crimes cometidos no BPN, pelo menos de pessoas que estiveram ligadas a
cargos políticos em governos do PSD. Já estamos habituados que ex-governantes,
fiquem acima da justiça, quando prevaricam na Lei. O que para o cidadão comum é
crime, para um ex-político, é uma situação banal!
As
Leis são elaboradas com conta, peso e medida, a fim de encobrir os crimes
políticos. Os Tribunais até podem dar sentenças, mas o cumprimento das mesmas não
é célere e quando tentam deter o arguido, ele já está longe, porque lhe foi
dado tempo e possibilidade de o fazer. É revoltante!
Ferreira
do Amaral, ministro de Cavaco Silva, responsável pelas “Parcerias Público
Privadas”, (PPP) foi o grande obreiro das auto-estradas e negociou com a
Lusoponte, as condições do contrato de construção da ponte Vasco da Gama e as
contrapartidas. Mais, negociou que se houver uma terceira ponte, o Estado terá
de indemnizar a Lusoponte. Quando sai do governo, vai para administrador da
Lusoponte. Esta promiscuidade entre política e administrações de empresas
públicas e privadas, foi uma constante pelos diversos governantes, e continua a
ser uma constante, não havendo quem determine incompatibilidades, entre o cargo
de político e gestor, colaborador ou consultor de uma empresa privada.
Durante
a governação do primeiro-ministro Cavaco Silva, chegou dinheiro da Comunidade
Europeia, para que deixássemos a agricultura, abatêssemos barcos de pesca e
dinheiros para serem utilizados em fundos estruturais de desenvolvimento. Esse
dinheiro foi aplicado na construção de auto-estradas e construção de prédios em
tudo quanto era sítio, proliferou a política do betão em todo o país.
Cavaco
Silva, foi o Primeiro-ministro, que mais tempo governou Portugal depois de
Salazar e Caetano, tendo estado no poder durante dez anos seguidos, com as
funções de Primeiro-ministro e já vai no segundo mandato de Presidente da
República de Portugal, sendo por isso grande responsável pelo que veio
acontecer recentemente, no que diz respeito à dívida pública.
Outros
governos vieram depois deste Primeiro-ministro e continuaram com a mesma
política de PPP, apesar de ter mudado a cor partidária no poder, mas a
estratégia de todos os governantes era a mesma.
Também,
a verdade seja dita, a política da CE era toda nesse sentido, de promover o
crescimento económico em todos os países de comunidade, de forma a combater as
desigualdades económicas entre países. Mas, nem todos os países usaram o
dinheiro dos Fundos Estruturais da melhor maneira, uns optaram pelas OP (Obras
Públicas), caso português, outros pela BI (Bolha Imobiliária) Caso de Espanha.
E outros, caso da Grécia, optaram por falsificar os resultados das contas
públicas e viver à grande e à francesa. Agora todos pagamos a factura!
Cavaco
diz que a Europa melhorou a agricultura
O
Presidente da República, Cavaco Silva, recusou a ideia de que a adesão à CEE,
em 1986, destruiu a agricultura portuguesa, numa altura em que era
primeiro-ministro.
No
discurso das comemorações do 10 de junho, o Presidente sublinhou que é preciso
"valorizar o espaço rural".
Afirmando
que é altura de "abandonarmos ideias feitas e preconceitos", o Chefe
do Estado apresentou muitos números ("melhorámos a produtividade",
"terrenos aráveis" e "exportações" no sector, entre outros)
para justificar a transformação do mundo rural. "Para esta transformação a
Política Agrícola Comum [PAC] deu um contributo fundamental", disse, antes
de elogiar "o esforço" dos agricultores.
Quase
de fora do discurso, ficaram referências ao desemprego, limitando-se a falar da
importância do património como um exemplo para desenvolver a economia, porque
"[gera] emprego e [mobiliza] a atividade económica".
Para
o fim, Cavaco Silva reservou referências ao pós-'troika' (desenganem-se os que
pensam que o pós-'troika' é longínquo"), para sublinhar que "os
desafios serão tão grandes", como os que se vivem hoje. E deixou o recado
de que é necessário o país preparar-se bem, "independentemente de quem
seja governo".
"As
perspetivas da economia e de criação de emprego", disse, "dependerão
do consenso social" que for alcançado, recusando o Presidente "uma
magistratura negativa e conflitual". "Procuro sublinhar casos e
exemplos de sucesso", disse. Como tinha feito com a agricultura antes.
felizmente que parte da democracia abrange o direito à opinião.
ResponderEliminarNo entanto esse assunto tem outras considerações, pois ao entrarmos na comunidade europeia, ficamos sujeitos a muitos compromissos, e um deles não foi decerto o esbanjar dos dinheiros que vieram para melhorar a agricultura e pescas, que foram no entanto canalizados para vigarices e enriquecimento ilícito como aconteceu e vai acontecendo ainda. antigamente passávamos na estrada e víamos gente a trabalhar nas terras e com casebres modestos, hoje vemos as terras a arder por falta de tratamento, e grandes carrões à porta de grandes chalés....
O Professor Doutor Cavaco Silva ( que governou mais tempo que qualquer outro, após o 25 de Abril, no continente, e sempre eleito à primeira volta,o que traduz o contentamento da maioria do povo português, e que nos merece tanto respeito como outros governantes que não foram tão bem sucedidos), teve de se ajustar aos compromissos europeus, no que respeita à produção, e como somos pouco produtivos não podemos competir com uma Espanha, por exemplo, que é muito maior em produção, sendo atribuído a nós dinheiro em prol da produção em modo de compensação.
E se bem me lembro que construiu as SCUTS de borla para passados dez anos os portugueses pagarem foi o Eng. Guterres num governo .
Ainda bem que vivemos em democracia, coisa que o anterior Governo tentou acabar.
EliminarA intimidação para que os cidadãos aceitassem, o que eles pretendiam, é o facto mais evidente, que a nossa democracia esteve em perigo.
Quanto à questão Cavaco Silva, cada um terá a sua opinião, o que eu respeito perfeitamente. Aliás, como democrata que sou, não estaria bem se não aceitasse as diversas opiniões que existem, sobre determinado assunto ou determinada pessoa.
Acontece que na União Europeia, não apontam facas ao peito de ninguém a dizer este país faz assim e aquela faz assado. Não, é preciso negociar. Era no tempo de Cavaco Silva como Primeiro Ministro de Portugal, tal como é hoje. É preciso negociar com a Comissão Europeia e o mais importante é que não estejamos enfraquecidos por qualquer motivo, político, financeiro, ou de outra ordem.
Lembro-me que no tempo de José Sócrates como Primeiro Ministro, a Comissária com a pasta da Agricultura, tentou acabar com diversas zonas demarcadas de vinhos em Portugal, para defender os interesses do seu país que é a França e grande produtor de vinho. Pois bem, tentou, mas não conseguiu, porque por cá de imediato se levantaram vozes contra essa situação e o Governo impôs-se contra tal medida e isso não aconteceu. Temos as nossas regiões demarcadas de vinho e até por acaso estamos a começar a exportar em força vinho verde, que praticamente era de consumo interno.
Quanto às SCUT, tenho um exemplo à minha porta. Passa aqui a A28, na altura de Cavaco quando este a mandou construir, chama-se IC1. Pois bem, foi construída no tempo de Cavaco Silva, (parte), deveria ser com quatro faixas de rodagem (duas para cada lado), mas Sua Ex.ª, apenas construiu com uma faixa para cada lado e para atravessar o Rio Ave, a ponte apenas tinha duas faixas (uma para cada lado. Resultado, após a inspecção de quem de direito da União Europeia, verificaram que o troço de estrada não estava de acordo com o negociado em Bruxelas, e, Portugal teve de devolver o dinheiro recebido pela construção desse troço do IC1.
Infelizmente, as minhas memórias sobre Cavaco Silva, não são as melhores, acho que foi um mau governante, o pior Presidente da República que tivemos desde sempre e por aí me fico.
Agradeço o seu comentário e respeito a sua opinião que é tão válida quanto a minha. Poderemos estar de acordo em muitas coisas, mas nesta, com certeza que não.
Um grande bem haja para si.