Seis erros da "troika" que desfizeram a sociedade portuguesa
O presidente do Conselho
Económico e Social, Silva Peneda, apontou seis erros que justificam "o
desfasamento" entre as metas previstas e o executado no âmbito do programa
da "troika" em Portugal, que teve como consequência "uma
desestruturação da sociedade".
Numa intervenção proferida
na Comissão do Emprego e Assuntos Sociais, no Parlamento Europeu (PE), em
Bruxelas, no quadro do programa da 'troika' aplicado em Portugal, Silva Peneda
afirmou que "o programa nasceu imbuído de seis erros maiores que têm muito
a ver com o desconhecimento da realidade da economia portuguesa".
O primeiro erro apontado
pelo responsável prende-se com "uma inadequada caracterização da
crise" por parte dos credores internacionais, que subestimaram os
"profundos desequilíbrios estruturais" num país cuja economia assenta
em pequenas e médias empresas "muito fortemente descapitalizadas".
Silva Peneda considerou, num
segundo aspeto, que a 'troika' -- composta pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI), Comissão Europeia (CE) e Banco Central Europeu (BCE) -- "não teve
em devida conta os elevados níveis de endividamento das empresas e das
famílias".
A negligência perante o peso
da procura interna e o forte impacto negativo da sua redução sobre o
crescimento e o emprego foi outro erro apontado por Silva Peneda, que criticou
igualmente a implementação de uma "Reforma do Estado confinada à lógica da
redução mais ou menos indiscriminada da despesa", focada nos cortes
salariais dos funcionários públicos e na redução das reformas".
Por último, um sexto erro
mencionado pelo presidente do CES prende-se com "a escassez de tempo para
a execução do programa".
O Governo e a 'troika'
optaram pela aplicação, num curto período de tempo, "de um conjunto de
medidas executadas de forma bruta e abrupta que se revelaram pouco eficazes,
porque não asseguraram o mínimo de estabilidade e de coerência entre as
diferentes políticas".
Para além destes seis erros,
Silva Peneda lembrou, perante os eurodeputados, que Portugal iniciou o programa
"com um desequilíbrio interno visível, não só no elevado défice público,
mas também no próprio desemprego (na ordem dos 9%) e ainda um desequilíbrio
externo elevado (com um défice de cerca de 10% do Produto Interno Bruto [PIB]",
cujas consequências foram a forte contenção da procura interna a subida da taxa
de desemprego.
"Estas são as razões
que, na minha opinião, explicam que o resultado do programa se tenha
materializado num sistemático desfasamento entre o previsto e o executado",
mas "mais grave é que a execução do programa tem vindo a provocar uma
preocupante desestruturação da sociedade, com o esbater duma classe média,
tendência que, a manter-se, irá ter as mais graves consequências no
funcionamento de uma economia social de mercado", acrescentou.
Silva Peneda reprovou ainda
as barreiras impostas pela 'troika' no quadro da legislação laboral e, em
particular, nos processos de contratação coletiva, "através da forte
restrição à publicação de portarias de extensão, o que conduzirá
inevitavelmente à desregulação do mercado de trabalho".
Fonte: http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=3622657&page=-1Para que no futuro se possa responsabilizar os culpados do actual estado de coisas no país.
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