Teste ao Tribunal Constitucional, ou afronta?


O Governo aprovou ontem os cortes das pensões e dos salários dos funcionários públicos para 2015. Esta antecipação das medidas anunciadas para o próximo ano, é com o intuito de fazer mais um teste ao Tribunal  Constitucional (TC). Mais uma vez, o Governo  prepara-se para atacar o défice com a política de sempre, ou seja, os tão famosos cortes de salários, pensões e reformas dos trabalhadores do sector privado. No entanto, deixa de fora as chamadas pensões milionárias relacionadas com fundos de pensões privados[1].
Portanto, o Governo vai substituir a Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES), que era provisória e só enquanto durasse o programa de ajustamento, pela Taxa de Sustentabilidade (TS) que passa a permanente. Só que na primeira os cortes eram progressivos e aumentavam substancialmente para as pensões mais elevadas, chegando aos 40% de acordo com os escalões[2]. Desta feita as reformas milionárias ficam de fora e passam a beneficiar, em relação às pensões mais baixas, porque ficam com a mesma penalização percentual.
Convém não esquecer que no memorando inicial, não havia por parte da troika nenhuma imposição de cortes de salários, de pensões e reformas. Apenas e só era exigida a diminuição da despesa e foi inclusive avançado pela troika exemplos, como o das PPP e da renda excessiva da energia. Pois, mas isso iria mexer com grandes lóbis, pelo que é sempre mais fácil, cortar aos mais fracos.
No Orçamento de Estado (OE) de 2012, o Governo iniciou a sua intifada contra os pensionistas, reformados e funcionários públicos. O TC, deixou passar, alertando que só o fazia dessa vez, devido aos compromissos com a troika. No entanto, o Governo ao elaborar o OE de 2013, volta a fazer o  mesmo com algumas nuances, para tentar ludibriar os juízes do Palácio Ratton. Claro que estes não andam  a dormir e chumbaram as medidas. Com essa decisão, os portugueses ficaram com mais dinheiro no bolso e a economia mexeu, aumentando o  consumo  interno, beneficiando por isso, a entrada de receitas nos cofres do Estado, e diminuindo ligeiramente o desemprego. Mas na elaboração do OE de 2014, o Governo, volta a colocar os cortes chumbados nos anos anteriores, com ligeiras modificações para tentar mais uma vez enganar o juízes do TC. Porém, estes não pactuam com o Governo  e voltam a chumbar as medidas de cortes nas pensões, nas reformas, nos salários dos funcionários públicos e nos subsídios de desemprego e de doença. NO entanto, mais uma vez, os juízes do Palácio Ratton, voltaram a ser benevolentes com o executivo, porque não obrigaram a devolver os cortes efectuados de Janeiro a 30 de Maio e com isso o Governo consegue atenuar o valor do impacto dos cortes para cerca de 540 milhões de euros[3].
Existe pois uma obsessão por parte do Governo em fazer os cortes da despesa a todo o custo nas pensões, reformas e salários dos funcionários públicos. Ora isso não é exactamente as gorduras do Estado, que o Primeiro Ministro enquanto candidato ao seu actual cargo, tanto propalou, que não ia cortar salários, nem subsídios de Natal, etc., etc. Talvez o erro dos juízes do TC, tenha sido ter facilitado a vida ao Governo, ou seja, ter deixado o Governo ficar com os cortes em 2012 e não ter obrigado o Governo a repor os cortes que foram efectuados desde Janeiro deste ano.
Passos Coelho, também prometeu negociar a diminuição do número  de deputados para 180, afim de cortar na despesa, mas depressa deixou cair essa promessa. Pois isso também mexe com a quantidade de boys que são deixados para trás, caso isso fosse para a frente. Portanto, as gorduras que tanto disse que ia cortar, ficam na mesma, ou seja, não corta nas PPP, não cortas nas rendas excessivas da energia, não negoceia a diminuição do número de deputados, aumentou o número de nomeações em relação ao Governo  anterior, aumentou substancialmente a dívida pública, apesar de um aumento brutal de impostos.
Só falta saber o que é que o Presidente da República, pensa de tudo isto que se tem passado nos últimos dias. Já é habitual que para os lados do Palácio cor de rosa, hiberne, mas como estamos a dias de entrar a nova Estação com temperaturas mais altas, criando a necessidade de sair da toca e começar a passear nos jardins do Palácio e quem sabe, talvez falar com a comunicação social ou com os portugueses. Sobretudo, defender os juízes e o TC, contra todas as agressões verbais quer das instituições estrangeiras, como das internas. Nós por cá, também não criticamos as posições de outros tribunais constitucionais. Principalmente o alemão, que muitas vezes interfere com leis comunitárias.
Portanto, haja respeito pelas instituições e o Primeiro  Ministro tem de dar o exemplo.
  



[1] http://www.jornaldenegocios.pt/economia/financas_publicas/detalhe/cortes_isentam_pensoes_ate_mil_euros_e_milionarias.html

[2] http://www.economias.pt/contribuicao-extraordinaria-de-solidariedade/

[3] http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=3953931

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