Vale a pena ler
PADRE
propõe baixar a dívida para metade da noite para o dia. E não é milagre
PEDRO
SOUSA CARVALHO 20/06/2014 - 07:51
Plano
Politically Acceptable Debt Reestructuring in the Euro Zone coloca BCE a
comprar parte da dívida dos países em dificuldade, que seria paga com os lucros
que recebem do banco central.
É
francês, é economista e é um dos co-autores de um programa que tem dado
bastante que falar por essa Europa fora. O plano PADRE – Politically Acceptable
Debt Reestructuring in the Euro Zone proposto pelo economista Charles Wyplosz
sugere uma reestruturação da dívida pública nos países mais endividados da
Europa e que para economias como a portuguesa representaria uma redução para metade
do nível de endividamento.
Nesta
altura, a Europa discute as vantagens e desvantagens de uma reestruturação da
dívida e o próprio presidente da Comissão Europeia nomeou um grupo de
especialistas para estudar o tema. Em Portugal, o assunto saltou para a ribalta
quando um grupo de personalidades apresentou o Manifesto dos 74 e mais de
trinta e cinco mil portugueses assinaram uma petição para que o assunto fosse
discutido no Parlamento.
Charles
Wyplosz tem uma proposta concreta, que tem tanto de simples como de polémica. E
vai apresentá-la esta sexta-feira no IDEFF - Instituto de Direito Económico
Financeiro e Fiscal, num debate que terá com Victor Bento, João Cravinho e José
Maria Castro Caldas. Antes Wyplosz falou com o PÚBLICO sobre o PADRE.
A
sugestão que Charles Wyplosz faz aos governos europeus é de colocar o BCE a
comprar parte da dívida dos estados-membros mais endividados, como Portugal, e
transformar essa dívida em obrigações perpétuas e sem juros. Isto permitia que,
de um dia para outro, a dívida remunerada de países como Portugal caísse para
metade.
E
como é que o BCE seria ressarcido? O BCE, que passaria a ser o credor, seria
pago com dinheiro do próprio BCE. Confuso? A sugestão de Wyplosz é que os
países que beneficiarem desta reestruturação possam usar os lucros do BCE que
são distribuídos aos estados-membros através da emissão de moeda (os chamados
direitos de seignoriage) para repagar essa dívida, sendo que a maturidade desse
pagamento teria de ser estendida por um período que poderia chegar a 100 anos
Charles
Wyplosz, que também é Director do International Centre for Money and Banking
Studies, de Geneve, propõe que a “tomada” de dívida por parte do BCE seja feita
na proporção da quota que cada país tem no banco central. E para evitar os
chamados riscos morais, ou seja, que os países aproveitem esta ajuda para
descurar a subida do endividamento, o economista propõe que a dívida perpétua
do BCE seja reconvertida em dívida normal e com juros, caso os estados-membros
ajudados voltem a aumentar o endividamento.
Esta
solução de Wyplosz, segundo o próprio, é compatível com o Tratado Orçamental, e
não implica pressões inflacionistas já que a emissão de dívida nova por parte
do BCE não seria monetarizada. O grande problema é passar os encargos da dívida
actual para gerações futuras. Mas a isso, o economista francês responde ao
PÚBLICO, numa entrevista por email, que “não existe uma outra alternativa que
seja credível”.
Defende
a reestruturação da dívida pública na zona euro. O que vai acontecer se a
Europa recusar essa via?
A
alternativa a uma reestruturação seria uma lenta erosão das dívidas actuais
através de excedentes orçamentais. Este processo iria demorar 20 anos ou mais,
período durante o qual o nível de endividamento continuaria extremamente
elevado, o que naturalmente poderia despoletar uma nova crise das dívidas
soberanas. Este é o risco que me preocupa mais. E é preciso não esquecer que,
apesar de tudo, todas as dívidas públicas dos países são hoje maiores do que
eram em 2007, ou seja, antes da crise.
Que
países da zona euro precisam hoje de reestruturar a dívida?
Seriam
sobretudo nos países mais endividados como o Chipre, a França, Grécia, Itália,
Irlanda, Portugal e Espanha. A Bélgica e a Alemanha também têm níveis elevados
de endividamento
Portugal
seria um dos candidatos naturais já que tem um rácio de dívida da dívida sobre
o PIB de 130%.
Ninguém
[nenhum país] precisou de reestruturar a dívida até a crise ter chegado. O
plano que eu defendo não propõe nenhum perdão ou não pagamento da dívida.
Propõe antes uma reestruturação na qual todo o pagamento da dívida é honrado,
mas durante um longo período de tempo. E o pagamento dessa dívida é garantido
pelas receitas que cada país ganha através da quota nos lucros do BCE. E o BCE
“cria” dinheiro novo respeitando estritamente o seu mandato de garantir a
estabilidade dos preços.
No
plano que propõe, caso este venha a ser aceite, qual é a percentagem da dívida
que seria alvo de uma reestruturação? Por exemplo, no caso de Portugal que
actualmente tem um rácio de 130%
No
meu plano eu proponho uma reestruturação de metade da dívida dos governos da
zona euro, aplicando a cada país uma quota igual à quota que tem no capital do
BCE. Para o caso específico de Portugal, o cenário pós- reestruturação,
implicaria ficar com uma dívida de 55,6% do PIB.
Fonte:
http://www.publico.pt/economia/noticia/padre-propoe-baixar-a-divida-para-metade-da-noite-para-o-dia-e-nao-e-milagre-1659692
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