Governo quer levar PS para o pântano.
O Governo não quer cair
sozinho no pântano político, necessita de muletas, ou seja, pretende arrastar
consigo o PS, talvez com o intuito de ficar em igualdade de circunstâncias nos
actos eleitorais que se avizinham. A situação de voltar a perder a
empregabilidade, do aparelho partidário, está a provocar mossa no PSD. Não nos
podemos esquecer, da frase de Marco António Costa para Passos Coelho, “ou vais
para eleições, ou tens eleições no partido”. Isto tudo a propósito de o Governo
pretender envolver o PS nas conversações com a troika.
Depois
de falhado o compromisso de "salvação nacional" que pretendia
envolver o PS nas conversações com a troika, o Governo propõe uma
"concertação alargada" com a oposição e os parceiros sociais sobre
metas e medidas para levar à mesa das negociações com a missão externa. Este é
um dos pontos da moção de confiança que o executivo de Passos Coelho já
entregou no Parlamento e que é discutida na próxima terça-feira[i].
Na minha opinião, o PS não
deve envolver-se em mais negociações com o Governo, sob pena de ficar ligado à
política destrutiva da economia que este Governo se propôs levar a cabo. Foi
uma questão de ideologia política, que fez este Governo seguir o caminho da
austeridade pela austeridade, até porque os resultados foram infrutíferos,
aliás, nefastos para a economia e para os portugueses. Debrucemo-nos sobre a
carta de Vítor Gaspar:
“Senhor
Primeiro Ministro
Numa
carta de demissão é imperativo reflectir sobretudo sobre as próprias limitações
e responsabilidades. O incumprimento dos limites originais do programa para o
défice e a dívida, em 2012 e 2013, foi determinado por uma quebra muito substancial
da procura interna e por uma alteração na sua composição que provocaram uma
forte quebra nas receitas tributárias. A repetição destes desvios minou a minha
credibilidade enquanto Ministro das Finanças.
Os
grandes custos de ajustamento são, em larga medida, incontornáveis, dada a
profundidade e persistência dos desequilíbrios, estruturais e institucionais,
que determinaram a crise orçamental e financeira. No entanto, o nível de
desemprego e de desemprego jovem são muito graves. Requerem uma resposta
efectiva e urgente a nível europeu e nacional. Pela nossa parte exigem a rápida
transição para a nova fase do ajustamento: a fase do investimento! Esta
evolução exige credibilidade e confiança. Contributos que, infelizmente, não me
encontro em condições de assegurar. O sucesso do programa de ajustamento exige
que cada um assuma as suas responsabilidades. Não tenho, pois, alternativa
senão assumir plenamente as responsabilidades que me cabem[ii].”
Vítor Gaspar assume a
responsabilidade do fracasso da sua política, mas isso não faz voltar ao activo
as empresas que foram obrigadas a fechar, por terem entrado em falência, assim
como os postos de trabalho perdidos não serão recuperados. Essa é a realidade
dos factos.
Por outro lado, porque é que
o PS deve aceitar qualquer acordo para negociar com a troika, se este Governo
está ferido de morte, tanto pelo caso dos swaps e o envolvimento da Ministra de
Estado e das Finanças, como a nomeação de Rui Roquete para Ministro de Estado e
dos Negócios Estrangeiros, depois de este ter estado na SLN/BPN como Presidente
Executivo da empresa dona do BPN, que provocou uma fraude de cerca de 7.000
milhões de euros ou mais.
Como se isso não bastasse, foi
nomeado por este Governo um Secretário de Estado, relacionado com o caso dos
espiões e da Ongoing. É mais uma machadada contra a credibilidade do Governo.
Nas
equipas de secretários de Estado que estão a compor-se uma surpresa: Agostinho
Branquinho, que deixou de ser deputado do PSD para ir trabalhar para a Ongoing
Brasil em 2010 e onde esteve até Setembro de 2012, é secretário de Estado da
Segurança Social, substituindo Marco António Costa. A escolha do actual
administrador da Santa Casa da Misericórdia do Porto causou mal-estar no
Governo por ter tido ligações à Ongoing, que tem um caso em tribunal por
utilização indevida de agentes das secretas.[iii]
Se o PS rompeu com as
negociações com o PSD e com o CDS, na passada semana, porque havia divergências
de fundo na política a seguir para o investimento, porque há-de agora, voltar a
negociar um entendimento para renegociar com a troika. Este Governo tem uma maioria parlamentar, que sustenta o
Governo e que está de acordo com as condições exigidas pelo Presidente Cavaco
Silva, pelo que o PS, não deve meter-se em alhadas.
Não é possível esquecer que
este Governo, arredou sempre o PS e a Concertação Social de qualquer acordo,
basta ver o que se tem passado ao longo dos dois últimos anos.
"Já
sabemos que há muita coisa em que estamos em desacordo e essa é a receita da
democracia", afirmou ainda Luís Marques Guedes, deixando depois um
renovado apelo aos socialistas. "Espero que seja possível encontrar de
facto, principalmente com o PS, disponibilidade para fazermos acordos e
entendimentos em torno de situações que sejam decisivas para o futuro do país e
nomeadamente aquelas que transcendem uma legislatura", afirmou, apesar de
reconhecer que é sem surpresas que a bancada socialista votará contra a moção
de confiança assim como PCP, BE e PEV[iv].
Quando do debate da Nação
que houve na Assembleia da República fez ontem oito dias, Passos Coelho atacou
fortemente o PS e nesse mesmo dia à noite, na sede do PSD, abriu as portas à
Comunicação Social em directo, tendo o seu discurso de rompimento com o PS e no
dia seguinte ficam muito espantados, por o PS ter rompido com as negociações, a
isto chama-se hipocrisia.
Na
segunda metade da legislatura e reiterando a coesão na "defesa da
estabilidade política", o Governo compromete-se na moção de confiança a
"relançar a economia" e em "aumentar a eficácia das políticas
públicas, atacando o ciclo de pobreza que a última década agravou". O
texto define como linha política levar a cabo "o encerramento do programa
de ajustamento e projectar um novo ciclo, sustentado, de desenvolvimento e
crescimento"[v].
De promessas está o inferno
cheio, este Governo já prometeu mais em pouco mais de dois anos que qualquer
Governo que tenha levado a legislatura até ao fim.
[i] http://www.publico.pt/portugal/jornal/governo-insiste-em-acertar-posicao-com-ps-para-negociar-com-a-troika-26876513
[ii]
Enxerto da carta de Vítor Gaspar ao Primeiro-ministro.
[iii] http://www.publico.pt/portugal/jornal/governo-insiste-em-acertar-posicao-com-ps-para-negociar-com-a-troika-26876513
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