O malabarista

Ontem à noite Passos Coelho chamou a Comunicação Social, para assistir ao seu discurso para dentro do Partido.
Depois de Vítor Gaspar se ter demitido e escrito a carta a dizer que o fazia, porque a sua política não deu certo, que falhou em tudo, Passos Coelho continua a insistir no mesmo, ou seja, quer continuar a destruir o que resta da economia, porque apesar de a Concertação Social, tanto do lado dos sindicatos como dos empresários, já terem divulgado que é preciso mudar de políticas, o Primeiro-ministro não o quer fazer; ou não sabe mais, ou está vendido aos interesses da troika.
Desde Christine Lagarde do FMI, ao Baco de Portugal, que ainda esta semana veio mais uma vez divulgar dados que não são abonatórios para o prosseguimento desta política, Pedro Passos Coelho acha que este é o único caminho a seguir.
Só existe uma coisa que acabou por funcionar, mas até para isso existe uma explicação de ter tido sucesso, que é o aumento de exportações, contra a diminuição de importações. Ora, se foi tirado poder de compra aos portugueses, as importações diminuíram consideravelmente, pois deixou de haver compradores para os produtos importados, tais como automóveis, máquinas industriais, computadores, electrodomésticos, telemóveis, etc.
Quando Portugal pediu ajuda externa anteriormente, uma das medidas tomadas pelo Governo de então, foi exactamente restringir as importações, mas nessa altura não estávamos na Comunidade Europeia e tínhamos moeda própria, o que não é o caso actual.
O discurso de Passos Coelho parece-me, que tem como grande destinatário o Presidente da República, por ter arranjado este “caldinho”, que não se sabe muito bem o que isto vai dar.
“Quando a um ano de eleições se cria incerteza com o que pode resultar de eleições, essa incerteza é antecipada para hoje. Não há coisa mais incerta do que eleições. Se não tivermos cuidado a lidar com esse tópico específico podemos estar a criar condições para que a incerteza acabe por comprometer os esforços de regresso ao mercado com confiança dos investidores", afirmou. Nunca o disse claramente, mas nas entrelinhas está a proposta de Cavaco Silva para a realização de legistativas em 2014 (um ano antes do previsto). Cavaco colocou essa hipótese como uma das condições básicas do acordo de salvação nacional que está a ser negociado por PSD e CDS com o PS.[i]
De tudo que deu para perceber, principalmente ontem de tarde na Assembleia da República, no debate da Moção de Censura do Partido “Os Verdes” (PEV); Passos Coelho afirmou categoricamente que era para continuar com a política seguida até à data e a própria Ministra de Estado, das Finanças e do Plano, disse exactamente a mesma coisa, aliás, esta escolha de Passos Coelho para liderar a pasta das Finanças, não é por acaso, ela é uma seguidora das medidas de austeridade de Vítor Gaspar, apesar de este ter reconhecido o seu fracasso.
Por outro lado, temos o ministro Paulo Portas, que anda arredado da vida activa política, porque pediu a sua demissão no dia a seguir a Vítor Gaspar, tendo escrito que a sua decisão era “irrevogável” e que “ficar no Governo seria um acto de dissimulação”[ii]. Esse pedido de demissão, pelos vistos, funciona só no cargo de Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, pelo que o Primeiro-ministro acenou-lhe com o cargo de vice-Primeiro-ministro e aí, as coisas voltaram a mudar, parece que “ficar no Governo deixa de ser um acto de dissimulação”.
Passos Coelho vai agora dar a machadada final no acordo de salvação nacional, pretendido por Cavaco Silva, levando-lhe novamente a remodelação do Governo, após a rejeição da Moção de Censura ao Governo pelo PEV, aliás, o Primeiro-ministro teve o cuidado de informar o Parlamento das suas intenções.
Uma coisa parece que vai acontecer, ou seja, não deve de haver acordo, até pela forma agressiva que Passos Coelho falou ao PS no Parlamento, aquando da discussão da Moção de Censura do PEV, assim como no discurso para dentro do PSD ontem à noite. Essa agressividade demonstra que, o PS não está disposto a assinar debaixo da continuidade de políticas de destruição da economia e do Estado social.
Portanto esta novela ainda não chegou ao fim, os interlocutores ainda não deram o seu contributo final, daí, não se saber o seu desfecho e previsões “só no fim do jogo” como se costuma dizer.


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