Troika trás na bagagem segundo resgate.
É interessante que este
Governo já não consegue esconder o que lhe vai na alma. Como diz o povo “ não
há fumo sem fogo”, isto para referir que já se ouve o Governo falar em segundo
resgate há algum tempo atrás, mas como forma de pergunta ao PS.
A decisão do Tribunal
Constitucional (TC), não foi mais que um pretexto de lançar abertamente para a
opinião pública, a ideia que será necessário um segundo resgate devido às
medidas adoptadas pelo TC. Quem ouve o Primeiro-ministro falar, se não estiver
informado, e hoje em dia, só não se informa quem não quer, até pode pensar que
o TC foi injusto. Isso não é verdade. O TC existe para fazer cumprir a Constituição
e as medidas chumbadas pelo TC, seriam em qualquer país democrático, logo, quer
dizer que o Governo é que fez um Orçamento de Estado (OE) errado, aliás, foi
bem criticado por isso, através de opiniões de constitucionalistas e de vários
economistas. O interessante de toda esta situação, é que agora, algumas das
pessoas que opinaram contra o OE de 2013, dizendo que havia artigos
inconstitucionais, agora andam a dizer que o TC, deveria ter tolerado e deixado
passar estas inconstitucionalidades. Quanto a mim, que não sou nem
constitucionalista nem economista, acho que a taxa de solidariedade é
inconstitucional, porque é um imposto exigido apenas a uma parte da sociedade,
logo viola a Constituição, no mesmo princípio da questão dos subsídios de
férias. E mais, esta taxa era quase considerada inconstitucional, por toda a
sociedade civil. Toda a gente, mesmo a mais próxima do Governo, no que diz
respeito a comentadores televisivos, diziam que esta medida era completamente
inconstitucional, e os juízes do Palácio Ratton, acharam que era
constitucional.
O mais impressionante de tudo
isto, é, a linguagem do Primeiro-ministro e dos membros do PSD e do CDS,
acusarem o TC de leviandade no chumbo das medidas que foram consideradas
inconstitucionais. Até parece que quem elaborou o OE, foi o TC e não o Ministro
das Finanças. E ao mesmo tempo, atiram a responsabilidade de um segundo resgate
para os defensores da Constituição da República, o que é um verdadeiro
disparate e um argumento de quem já não sabe mais o que fazer, para governar o
país.
Como já escrevi há tempos, o
verdadeiro culpado de tudo isto, foi o Presidente da República, que deveria ter
pedido a fiscalização preventiva do OE, se o tivesse feito, neste momento não estaríamos
a passar por isto, porque tinha havido outro OE. Só que isso, retiraria a
oportunidade do Governo, de arranjar um bode expiatório para o tal corte de
4.000 milhões, que agora vai ter de ser mais e que poderá não ficar por aqui,
porque assim que os números da execução orçamental do primeiro trimestre
estejam cá fora, o défice pode ser ainda maior, esperemos que não.
Vamos aguardar para não
tirar conclusões precipitadas.
Troika chega a Lisboa com
tolerância zero e segundo resgate na bagagem
Por
António Ribeiro Ferreira, publicado em 9 Abr 2013 - 03:10
Está
tudo suspenso. Maturidades da dívida e tranche de 2 mil milhões da sétima
avaliação só com cortes para garantir défice de 5,5% este ano e plano de
redução da despesa do Estado até 2015. Dura lex, sed lex
Portugal
não é a Grécia, Portugal não é Chipre. Duas expressões que já não fazem sentido
e que nenhum responsável político repetirá nos tempos mais próximos. Agora
acabou. O chumbo pelo Tribunal Constitucional de quatro normas do Orçamento do
Estado de 2013 foi apenas a gota de água numa desgraça que a sétima avaliação
já tinha destapado. A posição dos credores internacionais é muito clara e muita
dura e foi expressa não só pela Comissão Europeia como pelo ministro das
Finanças alemão, Wolfgang Schäuble: Portugal tem de cumprir o défice de 5,5%
este ano, revisto em Março, com medidas adicionais pelo lado da despesa e não
com mais aumentos de impostos, concluir o plano de cortes no Estado para este
ano, 2014 e 2015 e apresentar em Bruxelas um Documento de Estratégia Orçamental
credível.
MATURIDADES
E 2.º RESGATE Sem estas condições não haverá abertura para alargar a maturidade
das dívidas do país aos fundos europeus, que deveriam ser discutidas no final
da semana nas reuniões do Eurogrupo e do Ecofin em Dublin. A proposta em cima
da mesa dava mais cinco anos a Portugal, mas, se o governo for incapaz de
concretizar os cortes de imediato, o melhor será iniciar-se a discussão de um
segundo resgate que será ainda mais duro e violento que o Memorando assinado em
2011. E isto porque as necessidades de financiamento do país até Fevereiro de
2014 ultrapassam os 27 mil milhões de euros e o regresso aos mercados, com um
primeiro ensaio bem sucedido em Janeiro, está, por agora, adiado sine die,
muito embora os mercados, depois de um primeiro momento de pânico, tenham ontem
aliviado a pressão sobre os juros da dívida portuguesa a cinco e dez anos,
convencidos de que as promessas de cortes anunciadas por Passos Coelho domingo
vão ser mesmo cumpridas. Mas com os juros a dez anos nos 6,4% e a cinco acima
dos 5%, Portugal não conseguirá financiar- -se nos mercados para cumprir os
seus compromissos externos e as suas necessidades internas sem mais um
empréstimo dos credores, numa altura em que já recebeu da troika 80% dos 78 mil
milhões de euros acordados no Memorando de 2011.
56,4
MIL MILHÕES ATÉ 2016 A própria UTAO, num relatório de Março relativo a
Fevereiro, referia que, “até ao final de 2016, a amortização do stock (vivo) de
dívida de médio e longo prazo deverá atingir 56,4 mil milhões de euros. Na
sequência da operação de troca (parcial) de uma OT, cuja data de amortização
passou para 2015, a amortização de dívida de médio e longo prazo ascenderá a
5,9 mil milhões de euros no corrente ano, enquanto a dívida a vencer em 2014
atingirá os 14,1 mil milhões. Nos anos de 2016 e 2021 encontra- -se prevista
uma elevada concentração de amortizações: 19,8 e 22,0 mil milhões,
respectivamente. Atendendo a este perfil de pagamentos, as autoridades
portuguesas solicitaram recentemente uma extensão das maturidades dos
empréstimos da UE e/ou uma recalendarização de alguns prazos de reembolso. De
acordo com o comunicado do Eurogrupo, emitido no passado dia 5 de Março, a
troika terá sido mandatada para estudar a melhor forma de flexibilizar os
empréstimos a Portugal e à Irlanda” (ver peça ao lado). É tudo isto que está
agora em causa e acelera a necessidade de um segundo resgate.
TOLERÂNCIA
ZERO é a ordem dada aos representantes da Comissão Europeia, do Banco Central
Europeu e do Fundo Monetário Internacional, que, pela primeira vez desde o
início do programa de assistência, vão chegar a Portugal numa visita intercalar
dentro de dias, não só para tentar completar a avaliação, cujos resultados
incompletos foram conhecidos a 15 de Março, como para analisar com o governo
medidas que compensem o impacto das decisões do Tribunal Constitucional e o
plano de cortes no Estado para este ano, 2014 e 2015, que podem ir muito além
dos anunciados 4 mil milhões de euros.
Como
o i já noticiou, devido à correcção do défice de 4,5% para 5,5% para este ano e
à revisão em baixo da recessão de 1% para 2,3% do PIB, o valor que estava em
cima da mesa aquando da sétima avaliação já tinha subido para 5,6 mil milhões
de euros. Agora, com a necessidade de mais cortes depois do acórdão do TC, é
natural que a troika exija mais uma nova revisão em alta desse valor.
Quanto
à distribuição dos cortes pelas várias áreas, o i sabe que em alguns
ministérios se defende que a margem não deve ser igual para todos. Alguns
começaram a fazer o trabalho de casa mais cedo e não devem por isso sofrer a
mesma penalização. O argumento será invocável nas empresas de transportes, em
que já foram feitos cortes muito substanciais na oferta, nos custos e ao nível
do emprego - visíveis na saída de 14% dos trabalhadores.
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