O que motivou Cavaco a pedir a prevenção sucessiva do OE


No pedido da fiscalização sucessiva do Tribunal Constitucional (TC), que o Presidente Cavaco Silva fez, foi tornado público hoje os motivos de tal pedido.
Na minha opinião, quanto mais o Presidente fala, mais o Presidente se enterra, ou seja, devia estar calado, porque tudo o que está neste momento a ser divulgado, em relação aos motivos do seu pedido ao TC, demonstra que devia ter tomado outra atitude.
Com tantos fundamentos para pedir a fiscalização sucessiva, demonstra que deveria no mínimo ter pedido a fiscalização preventiva e numa situação mais radical e de acordo com as suas afirmações, que ora se tornaram públicas, até devia ter ido mais longe e vetado o diploma.
É evidente que existem impostos de classe no actual Orçamento de Estado (OE), como também existe “confisco”, porque a taxa de solidariedade pedida aos pensionistas e reformados, não é pedido aos trabalhadores activos. Logo, existe uma situação de inconstitucionalidade detectada e lembrada pelo Presidente ao TC.
O Presidente baseou-se mais na questão das pensões dos funcionários públicos, talvez por ser atingido no seu âmago, pelas palavras do primeiro-ministro, quando diz “há pessoas que nunca descontaram, para receber a pensão que recebem”. Pode haver situações de injustiças social entre o público e o privado, acredito que sim, mas isso não dá o direito de o primeiro-ministro dizer uma coisa dessas, principalmente, numa reunião do partido, em que estão elementos jovens, que hoje são contribuintes activos, que de acordo com a nossa lei, estão a descontar para os actuais pensionistas e reformados. Essa atitude do primeiro-ministro, é provocar o divisionismo de classes etárias no país. Mas também sabemos que o nosso primeiro-ministro, não é capaz de governar de outra forma. Não estava preparado para ocupar o cargo, continua a não estar preparado, mas pior que isso, é não saber exactamente o que pretende para o país. Não existe estratégia futura, apenas existe a estratégia de austeridade, atrás de austeridade, que tem destruído a economia do país.
Mas uma coisa é certa os actuais pensionistas também foram contribuintes para outros reformados, esse foi o caminho que a Assembleia Constituinte, achou que seria mais justa para o nosso país.
Em 2005 foi efectuada uma reforma na Segurança Social, para ajustar a sua sustentabilidade, nomeadamente os funcionários públicos que fossem admitidos depois da entrada em vigor dessa Lei, passariam a descontar para a Segurança Social e entrariam na Lei-geral, como os funcionários privados. Passa haver mais equidade e igualdade, entre privados e funcionários públicos, desde a entrada em vigor dessa Lei.
É natural que mesmo assim ainda haja algumas diferenças entre as diversas profissões, que existe no sector público, mas não podemos, nem devemos alterar as coisas de um dia para o outro. Pode-se hoje, tratar de alterar num futuro próximo determinadas condições, mas prevendo sempre os direitos adquiridos.
Voltando às palavras do Presidente, para justificar o envio do OE para o TC, deveria ter pedido também a fiscalização da compactação dos escalões do IRS, porque isso faz aumentar a carga fiscal em determinada classe.
A atitude do Presidente não foi a melhor, mas do mal, o menos, acabou por tentar rectificar o erro de não ter pedido a fiscalização preventiva.

Cavaco Silva queixou-se de "impostos de classe" ao Tribunal Constitucional
PÚBLICO 11/01/2013 - 09:21
Presidente da República alertou para a manutenção da desigualdade nos esforços entre sector público e privado quando remeteu normas do OE 2013 para fiscalização.
No pedido de fiscalização à constitucionalidade do Orçamento do Estado para 2013, o Presidente da República alerta para a discriminação dos funcionários públicos e pensionistas face aos trabalhadores do privado. Essa discriminação, sustenta Cavaco Silva, torna os cortes nos subsídios e nas pensões mais altas em autênticos “impostos de classe”.
No documento enviado ao Tribunal Constitucional, publicado nesta sexta-feira pelo jornal Sol, Cavaco Silva dirige-se sobretudo à ideia de que o Governo “mantém um tratamento diferenciado para os trabalhadores do sector público”.
Neste sentido, garante o Presidente, “um qualquer ‘estado de necessidade’ financeiro ou fiscal não parece autorizar a criação de ‘impostos de classe’ portadores de um esforço fiscal desigualitário ou excessivo em face das demais categorias de cidadãos”.
Para Cavaco Silva, ainda que se verifiquem, de facto, desigualdades nas condições de trabalho entre o sector público e privado, isto não justifica o argumento de “fragilidade” que é invocado pelo Governo para dirigir os cortes a um sector e não a outro.
Citado pelo Sol, o documento do Presidente da República diz que “a desigualdade que subsiste na tributação entre trabalhadores do sector público e do sector privado deve ancorar (…) em fundamentos materiais adequados e não tanto em argumentos de maior fragilidade, como os que constavam do OE 2012”.
Por outras palavras, Cavaco Silva contesta o argumento de poupança do Estado que o Governo invoca para justificar os cortes nos subsídios à Função Pública, classificando a medida como um "verdadeiro imposto". Segundo o Presidente da República, esta é apenas uma “distinção contabilística” pelo que as medidas do Orçamento do Estado para 2013 correspondem tão somente a uma “ablação “ do “rendimento anual”.
Direitos adquiridos, diz Cavaco
A esta ideia de desigualdade inconstitucional entre “diferentes categorias sociais e profissionais” acresce, segundo o Presidente, o carácter confiscatório e “exorbitante” dos cortes nas pensões acima dos 1350 euros e da suspensão de 90% do subsídio de férias aos reformados.
Cavaco Silva entende que as medidas que afectam as pensões “enfermam de inconstitucionalidades”, nomeadamente no que toca ao “agravamento fiscal profundamente desigual e até exorbitante” que se dirige aos pensionistas.
Face à entrada em vigor da Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES) em 2013 – medida imposta pela troika que estabelece cortes de 3,5% nas pensões acima dos 1350 euros –, Cavaco Silva argumenta estão a ser postas em causa as “legítimas expectativas dos pensionistas”, em alguns casos de forma “exorbitante” e que se está diante de “autênticos direitos adquiridos”.
Mas o Presidente da República estende ainda as críticas ao Executivo ao criticar a noção, expressa pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, de que existem pensionistas que “estão a receber mais do que descontaram”.
De acordo com o Sol, o Presidente da República escreve que “as pensões recebidas de instâncias públicas tiveram, como contrapartida, as contribuições que os mesmos [reformados] e as entidades empregadoras efectuaram para a Segurança Social”, razão pela qual não se deverá considerar eventuais esforços contributivos insuficientes para as actuais pensões.

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