Cortes no Social


Sou do tempo em que os alunos saiam da quarta classe, hoje chamado de 1.º ciclo, e que quem seguia os estudos, porque na época não era obrigatório o ensino acima da 4.ª classe, tinha de se matricular no Ciclo Preparatório, para isso tinha de pagar umas taxas e se ficasse aprovado nos exames de admissão, tinha propinas para pagar. Propinas essas, que tinham um valor de 50$00 por ano.
Ano de 1961/1962, 50$00, correspondia a muito dinheiro actual, basta dizer que viajava de eléctrico da Areosa/Porto, até à baixa do Porto por $80. Se tivermos em atenção que quando passamos do escudo para o euro, 1€ corresponde a 200$04 e que nessa altura o escudo já não valia a mesma coisa que em 1961, porque entretanto, tivemos dois resgates financeiros, com desvalorização monetária acentuada.
Em 1965, comecei a trabalhar como paquete, isto é, aprendiz de uma profissão, fosse de caixeiro, ou fosse de empregado de escritório, passava por essa iniciação. O ordenado na altura foi de 300$00 e no mês seguinte passei para 400$00, pelo meu empenho. Um adulto, nessa altura ganhava cerca de 1.000$00, e recordo-me de o ordenado dos meus patrões, empresários da época, ser de 1.500$00. (Um deles era engenheiro civil, portanto com curso superior, o outro, tinha o Curso Geral do Comércio)
Esta reflexão serve para dar uma ideia do valor de 50$00 em 1961.
Portanto, nessa época, também se pagava a saúde, ou seja, se eu fosse ao hospital, para receber um tratamento qualquer, tinha de pagar ou de meter atestados de pobre, se fosse o caso. No entanto, tinha direito à saúde, através da Caixa de Previdência, para onde os trabalhadores da época descontavam, para ter acesso à saúde e à reforma. Quem não descontava, não tinha direito a reforma no futuro.
Todo este preâmbulo par dizer o seguinte: o FMI está cá para preparar os cortes no Estado Social, direitos conseguidos através do Golpe Militar do 25 de Abril de 1974. Este Governo, mais o FMI, mais o BCE, mais a CE, querem de uma forma ou outra acabar com este Estado. Não lhes interessa que haja um país que tenha um Estado Social, querem pura e simplesmente que exista escravos a trabalhar para os senhores feudais que mandam no povo. Tal como tem havido caciques em determinadas regiões para conseguirem a eleição para Presidente da autarquia.
O que nos vai acontecer é ter de pagar para os nossos filhos e netos andarem a estudar. Todos nós vamos ter de pagar para ter acesso à saúde, quer nos centros de Saúde como já acontece, com taxas moderadoras, mas que passa a ser o valor da consulta, ou seja, tanto nos faz ir ao Centro de Saúde, como a uma clinica privada, teremos de pagar a mesma coisa. A liberalização dos mercados!
Portanto, nós neste momento estamos a pagar os prejuízos que a Banca teve com a falência do Lehman Brothers, onde todos perderam dinheiro e nós agora temos de fazer com que recuperem esse dinheiro perdido, acrescido dos juros que também não beneficiaram. Esse é o nosso problema!
Para que isso funcione em pleno, há a necessidade de empobrecer substancialmente a sociedade, para que se arranjem novos escravos, ou seja, mão-de-obra ao preço da “uva mijona”, ou ao preço de uma tijela de arroz por dia, tanto faz.
Para se evitar essa situação, possivelmente passa por uma nova guerra na Europa, como diz Vasco Lourenço, porque quem perdeu dinheiro com a falência da Lehman Brothers, não vai querer ficar por aqui, vai querer recuperar com língua de palmo, ou seja, com um valor acrescentado excessivo.
Resumindo, não sei como é que vai ser com o ensino obrigatório, possivelmente vai voltar para a 4.ª Classe, até porque neste ano lectivo já vai voltar haver exame, como no meu tempo, será isso?
De outra forma, não sei como é que podem impor um ensino obrigatório até ao 12.º ano de escolaridade, se todos tiverem de pagar o ensino dos seus filhos. Com o aumento da carga fiscal que nos está a ser imposta neste OE de 2013 que está em discussão no Parlamento, não me acredito que haja muitas famílias que consigam pagar os eus compromissos e pagar propinas no ensino Secundário. Vamos voltar ao analfabetismo, que existia no meu tempo de menino.
Em relação à saúde, não faço a mínima ideia do que pretendem fazer, neste momento pagamos taxas moderadoras, querem que se pague o tratamento na totalidade, ou o valor da consulta? Se assim for, será para dar trabalho e lucro aos amigos das clinicas privadas!
O direito à reforma, não podem tirar, pelo menos a todos aqueles que descontaram uma vida, a não ser que queiram devolver o dinheiro descontado ao longo de 40 ou mais anos, com os respectivos juros e diferenças cambiais. Esse dinheiro foi descontado pelos trabalhadores, para a sua reforma no futuro, os diversos governos é que o utilizaram mal. A sustentabilidade da Segurança Social, nunca esteve em causa senão com este Governo, daí que a responsabilidade é completamente do Governo.
É muito fácil ir buscar dinheiro aos Fundos de Pensão da Banca, e dar reformas aos bancários com o dinheiro da Segurança Social, sem estes tenham alguma vez descontado para a Instituição. O dinheiro dos Fundos de Pensões da Banca é, para pagar reformas da Banca e não para tapar buracos no Orçamento que o Governo não consegue ou não sabe gerir.
Podemos ter de pensar em reformular as contas do Estado, não digo que não, até pelo contrário, gostaria que o Estado fosse bastante mais magro, que não comesse tanto dinheiro como o que consome devido ao peso na estrutura final.
A Assembleia da República, 100 milhões de euros de orçamento, isto é um descalabro total.
A Presidência da República, 16 milhões de euros, outro descalabro, mas este senhor nunca soube ser pouco gastador, foi com ele que a dívida pública portuguesa cresceu desmesuradamente, veja-se o gráfico que se segue:

A estrutura do Governo, com assessores das “jotas” a ganharem aos 3.069,33 €, isso tem de acabar.
As autarquias, não fizeram nada do que está no memorando da troika, porquê?
Porque dentro de um ano vai haver eleições para as autarquias e apesar do banho que vai acontecer para o partido do Governo, não convém mexer aí, porque senão deixavam de ter um presidente de Câmara.
Enfim, o que realmente interessa é penalizar o povo, escravizar, para que os ricos fiquem cada vez mais ricos e para que a Banca recupere à custa do povo o dinheiro que perderam de ganhar, aquando da falência de Lehman Brothers.



Governo corta 3,5 mil milhões na saúde, educação e segurança social
Por Catarina Falcão, publicado em 1 Nov. 2012 - 03: Jornal I
 Marques Mendes revelou que os consultores do FMI já estão em Portugal a preparar os cortes no Estado social

O ex-líder do PSD, Marques Mendes, revelou ontem que dos 4 mil milhões de euros a serem cortados na despesa do Estado em 2014, 3,5 mil milhões serão na saúde, na educação e na Segurança Social, enquanto os restantes cortes vão ser na defesa, na segurança e na justiça. Apesar de Passos Coelho ter começado a falar aos portugueses na diminuição do Estado social há relativamente pouco tempo, Mendes garantiu que “os assessores do FMI já cá estão e esta semana tiveram reuniões no Ministério da Administração Interna e no Ministério da Defesa. No seu programa semanal de comentário político, “Política Mesmo”, na TVI 24, Marques Mendes deu detalhes sobre a reforma do Estado, que passará pela “revisão das funções, das estruturas e dos funcionários do Estado”.
Segundo o antigo líder do PSD, haverá uma redução no número de funcionários públicos “por via da mobilidade especial”. E poderão ser postos em prática os “co-pagamentos na saúde e na educação”.
O calendário adoptado pelo governo foi alvo de críticas do ex-líder do PSD, considerando que estas reformas vêm tarde e deveriam procurar aliados na sociedade civil. “Esta é a grande crítica. O governo andou a dormir na forma. Esta reforma vem com um ano de atraso. E isso é mau”, disse.
O comentador defendeu que o atraso de um ano na implantação destas mudanças prejudica o país, já que se poderia ter evitado o aumento da carga fiscal em 2013, caso as reformas tivessem sido preparadas em 2012. Mendes lamentou ainda que esta reforma não tenha sido feita quando o governo tinha mais apoio entre os portugueses. “O tempo político é outro. Há um ano o governo tinha um enorme estado de graça. Hoje tem uma imagem já bastante degradada”, acrescentou.
Em relação ao desafio do governo para que os socialistas alinhem num acordo sobre a redução da despesa do Estado, Mendes defendeu que o líder dos socialistas não pode ficar de fora, já que “não se pode dizer simultaneamente não a mais impostos, a cortes na despesa e a revisão das funções do Estado”.
“Se o PS se coloca nesta posição, arrisca-se a uma perigosa colagem ao BE”, disse Mendes, que considerou a reforma essencial porque “o Estado é grande de mais” e “consome impostos a mais”.

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