Educação, retrocesso de 50 anos
Passos Coelho ao querer
colocar propinas no ensino secundário, vai ter de mudar a Lei em que o ensino é
obrigatório até ao 12.º ano.
O que vai acontecer, é um
retrocesso de 50 anos no que diz respeito à literacia e ao analfabetismo.
Quando eu era miúdo e passei
no exame da 4.ª classe, fui fazer exame de admissão à escola preparatória e ao
liceu, para isso tive de pagar taxas num e noutro lado, só para fazer os exames
de admissão. Depois optei pelo ensino técnico e fui para a Escola Ramalho
Ortigão, onde tinha de pagar propinas, através de estampilhas fiscais.
Nessa altura o ensino
obrigatório era até à 4.ª classe, pelo que esse era gratuito e a partir daí
quem seguisse o ensino, teria de pagar, mas como o ensino não era obrigatório,
não era para todos, como é evidente.
Entretanto, houve o 25 de
Abril de 1974, que mudou tudo em Portugal, desde o regime fascista, até ao direito à saúde e educação. Igualdade para
todos, independentemente da sua classe social. Hoje, estamos a voltar a esse
tempo de ter diferenças de classes na educação e na saúde. Quem tiver dinheiro,
vai conseguir tirar o curso que quiser, quem o não tiver, fica pelo caminho,
independentemente das suas capacidades intelectuais. Podemos ter um mau aluno,
cábula, com pouca inteligência, mas que com cunhas (tipo Relvas), tire o seu
curso disto ou daquilo. E por outro lado, ter uma criança de família pobre, que
os pais não tenham condições de o manter a estudar, mas que seu lado é uma
criança inteligente, aplicado, mas fica co as pernas cortadas, porque não
existe no orçamento familiar, dinheiro para pagar propinas e tudo o que é inerente
à continuação dos estudos.
Nos últimos anos, talvez nas
duas últimas décadas, houve uma preocupação muito grande por parte dos nossos
governantes, para que a educação melhorasse, para que deixasse-mos de ter
analfabetos, para que todos tivessem direito a ser doutores e engenheiros,
independentemente da sua classe social. E de um momento para o outro, surge um
Governo, que concorreu a eleições com um programa que nada tem a ver com o que
está a implementar no país, portanto, retirando-lhe legitimidade para essas
alterações de fundo que está a provocar na sociedade portuguesa, e coloca o
país num retrocesso de 50 anos.
Aceito que o país não
aguenta um Estado social tão pesado, mas faça-se um referendo aos portugueses a
perguntar onde se deve cortar, em que tem de haver perguntas concretas, com os
valores actuais dos custos de cada rúbrica e a percentagem a cortar. Depois
deve haver com 2 r
para o sim, e para o não, e aí passa haver legitimidade para a “refundação do
Estado”.
Ensino obrigatório grátis é
responsabilidade do Estado
Por
Lusa
Fonte:
DN de 29-11-2012
O
secretário-geral da Federação Nacional de Educação, João Dias da Silva,
considerou hoje preocupante a intenção do Governo em introduzir propinas no
ensino secundário, salientando que o "Estado tem a responsabilidade de
oferecer a escolaridade obrigatória gratuita.
Em
declarações à agência Lusa, João Dias da Silva disse que a Federação Nacional
de Educação (FNE) vê com preocupação que esteja a "ser imaginada a
introdução de propinas no ensino secundário" num país em que os níveis de
qualificação da população são muito baixos.
O
primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, disse na quarta-feira em entrevista à
TVI, que o Governo tem em cima da mesa para o corte de "pelo menos"
quatro mil milhões de euros na despesa pública mudanças no financiamento da
Educação.
Pedro
Passos Coelho disse que a Constituição "não trava mudanças no
financiamento do sistema educativo que pode assim passar a ser semipúblico com
a introdução de copagamentos nos níveis de ensino que hoje são gratuitos".
O
secretário-geral da FNE disse hoje à Lusa que tem de haver um esforço no
sentido de "todos acederem aos mais altos níveis de qualificação",
nomeadamente a obrigatoriedade de ter uma escolaridade de 12 anos completa e
gratuita.
João
Dias da Silva lembrou que 32% dos alunos portugueses pertencem a famílias de
"muito baixo" estrato social, económico e cultural.
"Esta
situação vai fazer com que em vez de se combater o abandono escolar se esteja a
criar condições para promover o abandono escolar, que os nossos jovens
abandonem a escola por incapacidade das famílias em os manter no sistema
educativo sobretudo ainda tendo de pagar para o frequentar", explicou.
O
secretário-geral da FNE chamou ainda a atenção para a possibilidade de o
sistema copagamento pretendido pelo Governo vir a afetar também a oferta
educativa nos adultos.
"A
oferta educativa dos adultos deve ser promovida e incentivada através da sua
gratuitidade e não da introdução de propinas", frisou.
No
entender de João Dias da Silva, ao introduzir propinas, o Governo não está a
cumprir aquilo que são os objetivos de crescimento da qualificação dos
portugueses quer dos adultos quer dos mais jovens.
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