A queda no abismo
Tenho ouvido da boca
do nosso primeiro-ministro que quando o PSD e o CDS/PP assumiram o Governo
deste país, deixamos de estar à beira do abismo, mas afinal, tal como eu disse
diversas vezes, Portugal não está à beira do abismo, mas sim já se encontra em
queda no dito abismo.
Quando os demagogos
conseguem enganar muita gente, durante algum tempo é um problema para o país,
porque na verdade, o PSD e o CDS/PP, conseguiram colocar Portugal na senda da
bancarrota apesar de alegarem que foi assim que encontrara o país. A verdade é
que todos nós fomos completamente enganados, tanto pela troika, como pelo Governo. Aqui também existe a cumplicidade do
Presidente da República, que já devia ter demitido esta cambada de
incompetentes.
Começo a pensar e
talvez a defender a nossa saída do euro, ou de haver um líder partidário, com
alguma credibilidade, que dê um murro na mesa e que diga à troika que o memorando é para rasgar. É preciso renegociar esta
dívida que é impagável nestas condições. Ou somos nós (Portugal) a romper com a
troika e ameaçar a Europa com a nossa
saída do euro, criando uma crise na zona euro e talvez até na Europa. Aliás,
com a situação do Chipre, a questão da Europa, vai ter de ser repensada, pois
não acredito que tudo fique na mesma. Os senhores do Eurogrupo, ou mudam de
rumo ou a Europa se esfrangalha e todos os acordos vão para o lixo. O que está
a ser feito no Chipre é demasiado perigoso aceitar que vá para a frente. Devemos
solidarizarmo-nos com os cipriotas, porque hoje é com eles e amanhã vai ser
connosco. Só acho que devemos ser nós a bater o pé e sairmos por nós próprios e
não deixar que nos corram da zona euro, como parece que vai acontecer mais
tempo menos tempo.
Depois da conferência
de imprensa de sexta-feira, penso que já não vamos lá com manifestações, por
mais gigantescas que elas sejam.
Com as opiniões de
pessoas de bem como o Professor Daniel Bessa a não acreditar que a situação se
resolva com esta maioria, mas que tem de haver um alargamento político na
governação. Não sei se isso, será para salvar o país, ou se será para manter a
situação actual, mas com mais legitimidade parlamentar.
Com as ameaças que a troika nos fez, segundo Vítor Gaspar,
que se não houver o corte dos 4.000 milhões de euros, também não há cheque na
próxima tranche. Se assim for, quer dizer exactamente a nossa exclusão da zona
euro e o ter sido bom aluno, não serve para coisa nenhuma, pois a Europa, o
BCE, o FMI, estão-se nas tintas que tenham culpa no programa que nos impuseram,
para eles a culpa é nossa.
No entanto, a nossa
economia foi destruída e vai demorar décadas a recuperar, foram as palavras de
Vítor Gaspar, que “perdemos uma geração”. Aliás, a cara do ministro das
Finanças na conferência de imprensa, estava diferente do costume, isto é, ele
estava completamente comprometido, não veio com arrogância do costume, porque
as notícias foram as piores de sempre. Não serve dizer que foi difícil negociar
com a troika, porque este Governo
pôs-se a jeito com a história do “bom aluno”, agora pelo menos já sabem que não
serve só ser “bom aluno” deviam ter batido o pé na devida altura, como não o
fizeram, todos nós pagamos os erros deste Governo de uma forma muito dolorosa.
“Estamos todos a evitar anunciar a bancarrota”, diz Daniel Bessa
Em conversa com a Rádio Renascença, o antigo ministro
da Economia defende uma solução governativa que envolva o PS como forma de
evitar o incumprimento. Mas Miguel Cadilhe, ex-ministro das Finanças, discorda.
Daniel Bessa, ex-ministro da Economia do Governo socialista de António
Guterres, afirmou hoje, no Conversas Cruzadas da Rádio Renascença, que “estamos
todos no país a tentar evitar o momento final do anúncio ao mundo da bancarrota
e do incumprimento”.
“Não estou a dizer que estamos em cima desse momento, mas, infelizmente,
estamos hoje mais perto do que estávamos há dois meses, estamos mais perto do
que estávamos há dois anos. E, portanto, é isso que estamos a tentar evitar”,
declarou Daniel Bessa no programa, onde desenhou um cenário governativo
envolvendo o PSD, CDS e PS.
“O que estou a propor - envolvimento do PS no Governo- parece-me ser um contributo para evitar esse momento de anúncio de bancarrota. Porque há uma coisa que os portugueses têm de saber. É que se esse momento chegar será muito pior do que aquilo que vivemos hoje. Quem vende o incumprimento da dívida como uma salvação está também a vender uma ilusão. Ninguém julgue que Portugal sai incólume e sem uma penalização muito maior do que temos hoje se tiver de chegar ao incumprimento assumido”, acrescentou.
“O que estou a propor - envolvimento do PS no Governo- parece-me ser um contributo para evitar esse momento de anúncio de bancarrota. Porque há uma coisa que os portugueses têm de saber. É que se esse momento chegar será muito pior do que aquilo que vivemos hoje. Quem vende o incumprimento da dívida como uma salvação está também a vender uma ilusão. Ninguém julgue que Portugal sai incólume e sem uma penalização muito maior do que temos hoje se tiver de chegar ao incumprimento assumido”, acrescentou.
Já Miguel Cadilhe, ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva, discorda da
avaliação e do cenário proposto por Daniel Bessa, actualmente presidente da
Cotec Portugal. “Não sei se estamos mais perto ou mais longe desse anúncio de
bancarrota. É difícil afirmá-lo, estamos ainda naquela corda-bamba”, disse
Miguel Cadilhe. Que não prevê, a curto prazo, o envolvimento socialista na
governação.
Segundo Cadilhe, “o Partido Socialista fez muito por esquecer, por Portugal esquecer, a sua responsabilidade na crise, a sua assinatura no memorando. Espero que Portugal não esqueça. Qualquer que fosse o partido que tivesse responsabilidade na situação a que chegamos eu diria o mesmo. Foi o PS, pois bem, o PS não pode deixar de assumir as suas responsabilidades até ao fim. Um Governo de coligação poderia ter sido tentado antes, agora não me parece viável”.
Relativamente a esta questão, Daniel Bessa crê que o PS só poderá ter condições para integrar uma solução do tipo bloco central depois de eleições. Mas Cadilhe alerta para os riscos: “Não acho que eleições antecipadas seja um bom caminho, atendendo à situação em que nos encontramos. Situação de finanças públicas e de vigilância externa em que estamos. Seria talvez um acto de pouca responsabilidade que isso acontecesse e seria, talvez, um mau sinal”.
Segundo Cadilhe, “o Partido Socialista fez muito por esquecer, por Portugal esquecer, a sua responsabilidade na crise, a sua assinatura no memorando. Espero que Portugal não esqueça. Qualquer que fosse o partido que tivesse responsabilidade na situação a que chegamos eu diria o mesmo. Foi o PS, pois bem, o PS não pode deixar de assumir as suas responsabilidades até ao fim. Um Governo de coligação poderia ter sido tentado antes, agora não me parece viável”.
Relativamente a esta questão, Daniel Bessa crê que o PS só poderá ter condições para integrar uma solução do tipo bloco central depois de eleições. Mas Cadilhe alerta para os riscos: “Não acho que eleições antecipadas seja um bom caminho, atendendo à situação em que nos encontramos. Situação de finanças públicas e de vigilância externa em que estamos. Seria talvez um acto de pouca responsabilidade que isso acontecesse e seria, talvez, um mau sinal”.
Na opinião do ex-ministro das Finanças, “nós precisaríamos de ter – olhando
para a primeira metade dos anos 80 – líderes partidários como o PS e o PSD
tinham quando se fez o bloco central para Portugal receber o Fundo Monetário
Internacional e aplicar o programa. Precisávamos de líderes com essa estatura,
mas não é fácil”.
“As circunstâncias históricas também ajudavam muito na altura e tínhamos moeda própria, política cambial. Compreendo a ideia do Daniel Bessa, mas não estou a ver que o Partido Socialista queira, tenha vontade e, do ponto de vista estritamente partidário, tenha vantagem em entrar num governo de coligação. Numa perspectiva partidária. A perspectiva nacional é outra. É aquela que move o Daniel Bessa e o Carlos Moreno”, acrescentou Miguel Cadilhe.
“As circunstâncias históricas também ajudavam muito na altura e tínhamos moeda própria, política cambial. Compreendo a ideia do Daniel Bessa, mas não estou a ver que o Partido Socialista queira, tenha vontade e, do ponto de vista estritamente partidário, tenha vantagem em entrar num governo de coligação. Numa perspectiva partidária. A perspectiva nacional é outra. É aquela que move o Daniel Bessa e o Carlos Moreno”, acrescentou Miguel Cadilhe.
Prazo de validade do Executivo acaba no
Verão
Nesta conversa, Daniel Bessa identifica ainda o próximo
Verão como o prazo de validade do Executivo: “a meio do ano já será muito
difícil lidar com uma execução orçamental muito negativa. O que assistimos é
que, mais cedo do que eu próprio admitia, há aqui a confissão de uma
dificuldade. Portanto, não acho que este Governo vá cair na rua. Vai cair pelo
reconhecimento interno, a que não poderá deixar de chegar, da necessidade de
ajuda e de que essa ajuda exige outra solução governativa”.
“A ajuda não é nenhum passe de mágica, não vai resolver nenhum problema só
por si, mas acho que melhora um pouco as condições do exercício da actividade
governativa”, destacou.
Miguel Cadilhe: “Temos as coisas muito
esticadas do ponto de vista social”
“Tudo isto nos faz pensar que temos as coisas muito esticadas do ponto de
vista social, do ponto de vista do equilíbrio, da paz social. A troika, o
Governo português, têm de pensar que se perdem o controlo da economia a
consequência é uma. Se perdem o controlo social, a consequência pode ser outra,
bastante mais difícil de segurar” alertou Miguel Cadilhe. “O argumento
sucessivamente passado para a opinião pública de que os nossos credores nos
impõem e nada podemos fazer é um argumento que tem pouca força de convicção”,
referiu.
“O pior lado é a desilusão e a frustração que isto vai provocando nas
pessoas. As pessoas, concordando mais ou menos, aceitaram e acreditaram no
caminho proposto. Uns mais, outros menos, mas há uma aceitação quase colectiva,
porventura triste, como agora se diz a propósito das manifestações, mas as
pessoas aceitaram o caminho. O que não conseguem aceitar e com o que não
conseguem conviver é com a frustração de verem que o caminho parece não ter
fim. E isso eu acho terrível”, sustentou, por seu turno, Daniel Bessa.
Já Carlos Moreno, antigo professor de Finanças Públicas e juiz jubilado do
Tribunal de Contas, realçou o facto de que “vemos os técnicos em Lisboa a impor
uma coisa e os líderes das instituições como Durão Barroso e Christine Lagarde
a dizerem outra”. “Portanto, não podemos passar a vida nesta panaceia de que os
credores que vêm a Lisboa nos estão a impor e que não temos outro remédio,
porque se os que estão aqui nos impõem, então vamos nós lá aos outros
obrigá-los a dizer que também nos impõem, porque a Europa tem aqui alguma
responsabilidade”, disse.
Carlos Moreno salientou ainda - na sua análise às novas previsões oficiais
para a economia portuguesa, divulgadas na passada sexta-feira pelo ministro
Vítor Gaspar – que, na sua opinião, “os dois motores do crescimento económico
são as exportações e o consumo interno”.
“É evidente que há um valor estrutural a preservar, o do saldo positivo nas
contas com o exterior, mas quando se abandonou, se estiolou completamente o
consumo interno, até assustando as pessoas, fazendo uma má gestão das
expectativas, juntaram-se os factores para um resultado ainda pior”,
acrescentou.
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