O perdão da dívida alemã e a destruição da Europa
Interessante constatar que o
ministro das Finanças alemão Wolfgang
Schaüble, hoje diga que quem diz mal da Alemanha é por inveja: não me
parece que seja o caso. Na minha opinião, Wolfgang Schaüble já se esqueceu que
os Estados Unidos da América, praticamente lhes perdoaram o total da dívida e
outros 19 países (Bélgica, Canadá, Ceilão
(hoje Sri Lanka), Dinamarca, França, Grécia, Irão, Irlanda, Itália,
Liechtenstein, Luxemburgo, Noruega, Paquistão, Espanha, Suécia, Suíça, África
do Sul, Reino Unido, Estados Unidos e a antiga Jugoslávia) perdoaram 60% da dívida.
Nós portugueses com um
Governo cumpridor do memorando da troika, aliás, mais cumpridor, porque foi
muito além do memorando da troika, como compensação de ser bom aluno,
(exceptuando o Relvas, que a licenciatura foi feita de noite, nas casas de
passe da mouraria) temos de pagar a totalidade da dívida acrescida dos
respectivos juros, que faz aumentar a dita dívida para valores impagáveis.
Será que a Alemanha se
esqueceu como é que os credores agiram com eles?
Julgo que não, apenas estão
ao serviço do capital e com isso, vão acabar por destruir a Europa. Basta ver o
que aconteceu no Chipre, deixou de haver liberdade de movimentação de capitais,
contrariando as normas e Leis da EU. Quando já se começa a por em causa
tratados como o de Maastricht e passo a citar:
“O Tratado previu a criação
de uma moeda única em três etapas sucessivas:
- A
primeira etapa, que instaurou a livre circulação dos capitais, iniciou-se
em 1 de Julho de 1990.
- A
segunda etapa foi lançada em 1 de Janeiro de 1994 e permitiu a
convergência das políticas económicas dos Estados-Membros.
- A
terceira etapa deveria iniciar-se, o mais tardar, em 1 de Janeiro de 1999
com a criação de uma moeda única e o estabelecimento de um Banco Central
Europeu (BCE)”.
Tudo isto se manda para o
brejo, não interessa, porque se tem de defender os interesses da Alemanha que
são mais importantes que os do resto da Europa.
Mas existem mais coisas em
causa tais como:
“POLÍTICAS
O Tratado instaura políticas
comunitárias em seis novos domínios:
- Redes
transeuropeias.
- Política
industrial.
- Defesa
do consumidor.
- Educação
e formação profissional.
- Juventude.
- Cultura.”
Comecemos pelas redes
transeuropeias. Portugal fez o seu papel, criou auto-estradas entre o Porto e
Vigo, entre Aveiro e Vilar Formoso, aproximou o litoral Norte de Verín (Chaves –
Ourense), de Lisboa a Badajoz, do litoral algarvio S. Teotónio a Ayamonte,
estava a fazer a ligação do Porto a Quintanilha, que parcialmente está parada.
Na política industrial,
também foram feitos progressos, com implementações de zonas industriais em
diversos pontos do país, que hoje estão completamente ao abandono. De quem é a
culpa? Da crise europeia, acho eu!
Defesa ao consumidor,
tratamos de criar uma entidade que o faz, mas também foram criadas entidades
reguladoras, para diversos sectores da sociedade que não funcionam como deviam
e aí, a culpa é dos governantes, que optaram pela manutenção das rendas
excessivas da energia, combustíveis, telecomunicações, etc.
Sobre a educação, Portugal
apostou bastante na educação, mas que está a ser destruído neste momento com
encerramento de escolas e despedimento de professores. Está haver um retrocesso
enorme no que diz respeito à educação, não sei se por ideologia governamental
se por imposição da troika.
Quanto à juventude, nós
formamos os nossos jovens com o custo inerente à formação de cada um, mas agora
estão a emigrar por falta de emprego, devido às falências da pouca indústria e
de sectores do comércio.
No que diz respeito à
cultura, bem, já fomos um país onde se gastava muito dinheiro na cultura e que
hoje o orçamento é praticamente zero, não há dinheiro para por o elefante do
Jardim Zoológico a tocar o sino.
Mas ainda há mais coisas que
estão a ser postas em causa, tais como:
“PROTOCOLO SOCIAL
No
domínio social, as competências comunitárias foram alargadas mediante o
protocolo social anexo ao Tratado. O Reino Unido não participou neste
protocolo, cujos objectivos são os seguintes:
- Promoção do emprego.
- Melhoria das condições
de vida e de trabalho.
- Protecção social
adequada.
- Diálogo social.
- Desenvolvimento dos
recursos humanos necessários para assegurar um nível de emprego elevado e
duradouro.
- Integração das pessoas
excluídas do mercado de trabalho.”
Promoção do emprego, isso é
para fazer rir, temos a maior taxa de desemprego desde que há memória em
Portugal.
Melhoria das condições de
vida no trabalho, foi feito, agora ponho em causa que continuem a fazer esse
investimento.
Protecção social adequada, isso
é uma coisa do passado, neste momento, estão os pensionistas e reformados a
suportar os custos do poder central. Mais está em causa a saúde e a educação.
Diálogo social, não existe e
penso que também nunca foi posto em prática neste país, pois normalmente existe
um monólogo da parte do Governo.
O desenvolvimento dos
recursos humanos para assegurar um nível de emprego duradouro, isso já faz
parte do passado, hoje todo o trabalho é precário.
Quanto à integração das
pessoas excluídas do mercado de trabalho, vão continuar excluídas por muitos
anos e a esmagadora maioria, definitivamente, pois existe mais de 1,5 milhões
de desempregados, contando com os que não estão inscritos nos Centros de
Emprego e Formação Profissional.
Com isto, quero dizer que
cumprimos o que nos era exigido pelo Tratado de Maastricht, mas que no fundo
pouco ou nada serviu, porque a Alemanha põe tudo em causa, no que diz respeito
às dívidas soberanas. E sem dinheiro, tudo o que está citado acima do Tratado
de Maastricht, deixa de ter valor, porque não é exequível.
Perdão da dívida pública
alemã
Há
60 anos, a 27 de fevereiro de 1953, 20 países, entre eles Grécia, Irlanda e
Espanha, decidiram perdoar mais de 60% da dívida da Alemanha (República Federal
ou Alemanha ocidental). O tratado, assinado em Londres, foi determinante para o
país se tornar numa grande potência económica mundial e num importante aliado
dos Estados Unidos durante as décadas da Guerra Fria contra a antiga União
Soviética.
O
perdão da dívida, que na prática foi uma extensão e reforço das ajudas
financeiras diretas do Plano Marshall, liderado pelos Estados Unidos, permitiu
aos alemães reduzirem substancialmente o fardo da dívida contraída antes e
depois da Segunda Guerra Mundial.
Segundo
uma análise de Éric Toussaint, historiador e presidente do Comité para a
Anulação da Dívida do Terceiro Mundo, "a dívida antes da guerra ascendia a
22,6 mil milhões de marcos, incluindo juros. A dívida do pós- guerra foi
estimada em 16,2 mil milhões. No acordo assinado em Londres a 27 de fevereiro
de 1953 estes montantes foram reduzidos para 7,5 mil milhões e 7 mil milhões
respetivamente. Isto equivale a uma redução de 62,6%", explica o perito.
"O
acordo estabeleceu a possibilidade [por parte da Alemanha] de suspende
pagamentos e renegociar as condições caso ocorresse uma mudança substancial que
limitasse a disponibilidade de recursos", diz o historiador.
A
Alemanha beneficiou ainda de uma medida excecional que, em alguns casos,
permitiu reduzir taxas de juro cobradas aos países em 5 pontos percentuais.
Outro
historiador, desta feita o alemão Albrecht Ritschl, confirmou que existiu de
facto um perdão de dívida gigantesco ao país, que no caso do credor Estados
Unidos foi quase total. "Em 1053, os Estados Unidos ofereceram à Alemanha
um haircut, reduzindo o seu problema de dívida a praticamente nada", disse
em entrevista à revista Spiegel, em 2011.
O
"Acordo sobre as Dívidas Externas Alemãs" foi assinado entre a
Alemanha Federal e 20 países. Foram eles: Bélgica, Canadá, Ceilão (hoje Sri
Lanka), Dinamarca, França, Grécia, Irão, Irlanda, Itália, Liechtenstein,
Luxemburgo, Noruega, Paquistão, Espanha, Suécia, Suíça, África do Sul, Reino
Unido, Estados Unidos e a antiga Jugoslávia.
Para
quem preferir ler o acordo integral em PDF e em inglês, basta seguir o link:
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