Intervenção dos privados na comunidade
O Estado tem obrigações para com os
cidadãos, nomeadamente no que diz respeito à saúde, à educação e à Segurança
Social. Pode haver intervenção da comunidade, mas não com dinheiros públicos.
Quem pretender entrar no negócio do ensino ou da saúde, pode fazê-lo, mas com
dinheiros próprios e cobrar aos alunos e doentes, conforme o caso, o valor
correspondente ao serviço prestado.
O que não pode acontecer, é abrirem
colégios privados e depois ser o Estado a subsidiar ou abrirem hospitais
privados e depois fecharem o hospital público que existe nas imediações, para
que os serviços prestados no privado, sejam pagos pela Segurança Social. Claro
que depois acontece de fecharem o hospital público, porque não tem doentes ou
dá prejuízo. Actualmente abrem-se hospitais privados, quase como cafés ou
restaurantes, se não tivessem o apoio do Estado, não seria assim.
Agora vão ser devolvidos às Misericórdias,
os hospitais que foram nacionalizados a seguir ao 25 de Abril. Julgo que houve
pagamento de indemnizações, como no caso da banca e seguros, etc… Entretanto,
fora feitas obras e algumas de grande envergadura, por exemplo o Hospital de
Santo António no Porto, mas noutros também foram feitas obras de custos
elevados e recentemente, como o Hospital da Póvoa de Varzim e o de Vila do
Conde, mas vão ser devolvidos e não se vai construir o que estava previsto para
substituir estes dois. Pergunto, é para o Estado continuar a pagar o
funcionamento desses hospitais, mas a gestão passa a privada?
Haverá indemnização ao Estado, na
entrega dos ditos hospitais?
Em relação às fundações, todos sabemos
que muitas nem sequer deviam existir e outras para se manterem abertas
necessitam do apoio do Estado, que quanto a mim, está errado. Quando alguém
pensa em criar uma fundação, deve fazer o estudo de viabilização e se a mesma
não for viável pelos seus próprios rendimentos, não deve abrir. Algumas são de
interesse e utilidade pública e essas, devem ter apoios do Estado, mas apoios
não quer dizer subsídios, que é o habitual. Apoios, significa a isenção de
impostos e já é uma ajuda substancial, porque feitas as contas às muitas
fundações que existem, só nas isenções de impostos, ficam por cobrar milhões de
euros. Isso tem de ser considerado ajuda monetária, porque as restantes
instituições e os contribuintes, todos pagam os seus impostos.
Concordo com o Cardeal Patriarca,
quando diz que os portugueses são em parte responsáveis pelo que se está a
passar, porque demos o nosso voto ao “Partido A, ou ao Partido B”, mas não
cobramos o que devíamos, porque se os políticos não fazem o que prometeram, ou
se esbanjaram os dinheiros públicos, de forma irresponsável, devíamos exigir
que fossem responsabilizados e isso não fazemos. Essa é a nossa
responsabilidade.
É comum ler-se nos jornais, que o ex-primeiro-ministro
do país “tal”, foi constituído arguido, por esta ou aquela situação de
benefício estranho às funções que exerceu. Aqui isso não se passa, podemos ter
casos em que se saiba com toda a certeza que houve corrupção e se forem casos
que envolvam entidades estrangeiras, o processo no estrangeiro acaba, enquanto
o nosso, nem sequer tem arguidos constituídos.(exemplo: o caso dos submarinos)
Também temos um problema, que é a
nossa mentalidade não ter nada a ver com a dos países do norte, pois enquanto aqui,
achamos que não somos polícias de ninguém, nos países do norte da Europa, toda
a gente denuncia os casos ilegais que conhece, nomeadamente na fuga ao fisco e
outras ilegalidades. Para isso, tem de haver muita coisa a mudar no estado de
espirito das pessoas e nas mentalidades.
"Os portugueses
são em parte responsáveis pelo que se está a passar. Pedem tudo ao Estado"
03
Outubro 2012 | 08:20
Jornal
de Negócios Online -
negocios@negocios.pt
Em
entrevista à rádio Renascença, o Cardeal Patriarca critica a relação dos
portugueses com o Estado e defende mais intervenção das comunidades na saúde e
na educação.
“Os
portugueses são em parte responsáveis pelo que se está a passar, porque têm um
conceito de vida em comunidade em que o Estado tem obrigação de tudo. Pedem-lhe
tudo”, afirma D. José Policarpo, manifestando-se “surpreendido”, no caso das
fundações, com a quantidade de entidades que recebiam dinheiros públicos e que
reivindicam receber. “Se o Estado gasta dinheiro nessas outras coisas, vai ter
dificuldade aquilo que são as necessidades primárias e fundamentais da comunidade
e que realmente lhe competem”, acrescenta em entrevista, ontem, à rádio
Renascença.
O
bispo de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal também questiona o
próprio Estado, que “se considera o único prestador legítimo de serviços e
saúde”, enquanto “todas as outras iniciativas, algumas de grande qualidade,
estão reservadas para quem as pode pagar”. Por isso, defende que na saúde e na
educação há passos que é preciso dar e que já foram dados por outros países da
União Europeia, no sentido “da integração coordenada de todas as
potencialidades da comunidade para resolver serviços fundamentais da mesma
comunidade”.
A
melhor forma da Igreja participar na situação que Portugal vive é com obras e
não com palavras, defende ainda o também presidente da Conferência Episcopal
Portuguesa (CEP).
“Penso
que houve uma coisa muito bonita desta crise que estamos a viver que foi que a
participação a Igreja não foi de palavras, foi de obras". "Desafiámos
os nossos cristãos a estar atentos ao seu próximo, ao seu vizinho e a agir. Em
vez de estar a tomar posições solenes de condenação de soluções governativas,
olhar o que as pessoas estão a vier … é isso que é a nossa missão. Esta foi uma
opção muito simples de realismo da caridade cristã”, diz D. José Policarpo em
entrevista ao programa “Terça à Noite”.
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