O exemplo de uma má Fundação.
Ontem no Parlamento foi discutido
entre outras coisas, a questão da extinção de quatro Fundações por parte do
Governo.
Durante o debate, o deputado Telmo
Correia do CDS/PP, defendeu que este Governo extinguiu quatro Fundações, mas
que lembre, o PS não extinguiu nenhuma nos últimos seis anos. A questão não
pode, não deve ser discutida dessa forma. O que os deputados têm de fazer, é
criar leis para que haja justiça social e protejam os dinheiros públicos com
essas leis. Ora em relação às Fundações, não se passou nada disso. Ao longo dos
anos foram criadas Fundações, ligadas a certas personalidades políticas, com
fim de obterem “Estatuto de Utilidade Pública”, para conseguirem benefícios
fiscais, que por vezes é de um valor importante.
Como já opinei, na minha opinião,
todas as Fundações deviam ter de provar esse estatuto de utilidade pública, e
as que não conseguissem fazer essa prova, não obtinham nenhuma regalia em
relação a qualquer outra actividade comercial que existe em Portugal. As
Fundações que consigam provar o estatuto de utilidade pública, tinham de
apresentar um orçamento de tal forma, que as ajudas estatais não poderiam
legalmente ultrapassar no máximo 15% desse orçamento. Para determinar esse
valor, tinha-se de entrar em linha de conta com os benefícios fiscais, isso
também é dinheiro!
As Fundações têm de arranjar forma de
viver, sem ser parasitando o Estado. É verdade, que muitas Fundações substituem
o Estado em acções sociais, e essa obrigação pertence ao Estado, mas que por
este ou aquele motivo, não está a fazer esse trabalho. Daí que é importante um
estudo aprofundado e minucioso, sobre a utilidade pública.
Julgo que toda a gente sabe que
existem Fundações só para benefício dos seus fundadores ou órgãos dirigentes,
que têm salários elevados e que estão isentos de muitos encargos fiscais e que
além disso, ainda recebem dinheiro de todos nós, através do OE.
Voltando à questão do debate político
sobre as Fundações no Parlamento, o deputado Negrão do PSD, veio defender a sua
“dama”, alegando que a Fundação do PSD-Madeira não custa um cêntimo ao erário
público. Basta ler o artigo publicado no jornal Público, (segue abaixo na integra)
para verificar que isso é demagogia pura, que é tapar o sol com a peneira,
porque só em benefícios fiscais, temos um montante muito importante, que não
entram nos cofres do Estado e ainda por cima, poderá haver acções ilícitas
nesta Fundação. Este não será caso único, com certeza que haverá mais com o
mesmo benefício e com situações de aquisição de património idênticas.
Portanto, o Governo devia ter cortado
o mal pela raiz e acabar com as “dádivas” de dinheiro para todas as Fundações e
a partir do momento em que cada uma delas demonstrasse o interesse de utilidade
pública, bem fundamentado, então beneficiaria das isenções fiscais a que tem
direito e se houvesse atribuição de algum subsídio, tinha de ser muito bem
controlado por parte do Estado, para se saber exactamente como é que esse
subsídio era gasto.
Dessa forma, o próximo OE, estaria
muito mais aliviado no que diz respeito a despesas!
Existem Fundação da Banca, que não
será para dar nada a ninguém, ou é para lá ter um gestor a ganhar um belíssimo
ordenado, e que se formos investigar, possivelmente estão lá ex-políticos. É
por isso que quando se fala em cortar aqui ou ali, normalmente nada se faz,
porque os interesses instalados falam mais alto. Hoje é aquele, amanhã sou eu,
isto deve funcionar dessa forma.
O caso do exemplo que segue abaixo, corresponde
a um parágrafo do artigo do Público, que segue abaixo, mas é importante este
destaque. Este parágrafo, deve fazer quem de direito se questionar na utilidade
pública de muitas das Fundações que existem neste nosso País.
Segundos tais dados, a fundação tem um
valor patrimonial tributário isento no valor de 3,825 milhões, correspondente a
cerca de 30% do total da riqueza declarada. Criada em 1992 com um capital de 50
mil euros, o seu património passou a mais de 12 milhões em 2010, de acordo com
o referido relatório, ou seja, registou um crescimento patrimonial de 25.325%
nesses19 anos.
Este exemplo, demonstra quanto é que o
Estado lá meteu do erário público, com isenções fiscais, partindo do princípio que
não foi concedido qualquer subsídio ao longo dos últimos 19 anos, o que não me
acredito.
A longa e polémica
história da Fundação do PSD-Madeira que o Governo não extinguiu
26.09.2012
- 21:24 Por Tolentino de Nóbrega
Fonte:
Jornal Público
Sede do PSD no Funchal
()
O Governo não extinguiu a Fundação Social
Democrata da Madeira, que está a ser investigada pelo Ministério Público (MP).
O
processo foi desencadeado por queixa do PND contra o presidente da instituição
e líder regional do PSD, Alberto João Jardim, por suspeita de prática de crime
de peculato, corrupção passiva e abuso de poder.
O
inquérito está parado há dois anos, pelo facto da Assembleia Legislativa da
Madeira não ter autorizado, como tem solicitado o Tribunal Judicial do Funchal
desde 2008, o levantamento da imunidade a Jardim. Uma prerrogativa específica
dos deputados mas que o PSD alargou aos membros do governo regional na única
revisão do Estatuto da Madeira, efectuada em 1991.
Na
denúncia ao MP, o PND afirma que a fundação, criada por Jardim com outros
governantes e deputados do PSD, não cumpre as condições gerais da declaração de
utilidade pública atribuída pelo governo, chefiado pelo líder do PSD-M. E alega
ainda que, apesar de ter fins não lucrativos, tem, fazendo uso desse estatuto e
dos respectivos benefícios fiscais, adquirido ao longo dos anos um vastíssimo
património, obedecendo a sua gestão a estritos critérios de interesse
partidário.
Avaliada
pelo Ministério de Finanças com nota positiva de 62,9%, a fundação comunicou,
no âmbito do censo realizado por imposição da troika, que não recebeu qualquer
apoio financeiro público directo entre 2008 e 2010.
Segundos
tais dados, a fundação tem um valor patrimonial tributário isento no valor de
3,825 milhões, correspondente a cerca de 30% do total da riqueza declarada.
Criada em 1992 com um capital de 50 mil euros, o seu património passou a mais
de 12 milhões em 2010, de acordo com o referido relatório, ou seja, registou um
crescimento patrimonial de 25.325% nesses19 anos.
Vasto património e um Rolls Royce
O
património da fundação integra 32 prédios, a herdade onde realiza a festa anual
e uma vasta frota automóvel que inclui um Rolls Royce.
Esses
prédios estão arrendados ao PSD-M, que neles instalou mais de metade das suas
54 sedes locais. Mas o Tribunal de Contas não confirma o pagamento de rendas
pelo partido para cuja conta bancária a assembleia regional transfere
anualmente 2,9 milhões, proveniente da subvenção parlamentar.
Tecnicamente
falido, com o capital negativo em 3,4 milhões, o PSD-Madeira tinha em 2008 uma
dívida de 4,5 milhões à fundação, a bancos e a fornecedores, apurou a Entidade
das Contas e Financiamentos Políticos (ECFP) na última apreciação das contas
deste partido.
“Sendo
o PSD nacional o titular da personalidade jurídica, dada a norma constitucional
que proíbe “partidos regionais”, todo e qualquer património do PSD/Madeira
pertence àquele, podendo de tudo dispor a seu belo prazer. E como não se pode
adivinhar o futuro, susceptível de qualquer comprometimento que não fosse do interesse
dos autonomistas sociais-democratas desta Região Autónoma, foi entendido criar
uma Fundação madeirense, para que um património criteriosamente construído na
Região não viesse a ser lesado por razões exteriores à Madeira”. É assim que
Jardim justifica a fundação, em recente edição do jornal do PSD-M, “Madeira
Livre”.
Há
quase duas décadas colocada sob suspeita pela oposição regional, a FSDM,
acusada de “burla fiscal e legal”, tinha sido antes objecto de uma acção
judicial (inconclusiva) requerida ao Ministério Público pelo CDS/PP em 1992.
Três
anos depois também a UDP apresentou idêntica queixa, mas o processo acabou por
ser arquivado. Uma investigação à fundação presidida pelo Jardim voltou a ser
pedida pelo PS à Procuradoria-Geral da República, no dossier sobre corrupção na
Madeira entregue a Pinto Monteiro em 2007.
Negócios polémicos
Entre
outros negócios polémicos, está a venda da herdade do Chão da Lagoa, onde no
domingo se realizou a festa anual do PSD-Madeira, no final da década de 90 à
Fundação Social-Democrata pela Fundação Berardo.
Na
compra por esta efectuada em 1992 o conjunto de quatro parcelas, com um total
de 726 mil metros quadrados, tinha ficado registado pelo valor patrimonial de
4.933 euros, ou seja, de 0,6 cêntimos por cada metro quadrado. Antes designada
por herdade da Achada Grande, e situada entre a ribeira das Cales e o Poiso, na
zona limítrofe a norte do concelho do Funchal, pertencia aos herdeiros de Gomes
Loja, tendo, por dificuldades financeiras deste grupo empresarial, sido
transacionada para a extinta Caixa Económica do Funchal e posteriormente para o
sucessor BANIF. Adquirida pela Fundação do empresário José Berardo, accionista
daquele banco, desenvolveu um projecto de reflorestação, financiado pelo Plano
de Acção Florestal. O Ministério Público junto do Tribunal Administrativo e
Fiscal do Funchal, por denúncia particular feita em 2007 contra o depósito de
terras e alteração morfológica do prédio, está a investigar se houve violações
ao licenciamento nas terraplanagens executadas para acolher as amplas zonas de
comício e estacionamento na festa do PSD.
Também
não foi pacífico o processo de aquisição de alguns prédios pela FSDM, como a
construção da sede na rua dos Netos. Foi o caso dos terrenos em Santo Amaro, no
Funchal, onde foi construído o Centro de Conferências e Exposições da Madeira
(CEMA), também propriedade da FSDM avaliada em 1,5 milhões de euros e local dos
congressos e reuniões magnas do PSD-M.
O
prédio anexo ao Madeira Shopping, com 4,5 mil metros quadrados, custou 15 mil
euros (75 mil euros), considerado muito abaixo ao preço de mercado. Segundo o
Diário de Notícias funchalense, o negócio envolveu isenção de sisa, decidido
por Paulo Fontes, então secretário das Finanças e simultaneamente membro do
conselho fiscal da fundação, e implicou o realojamento pelo governo regional em
bairros social de famílias que habitavam esta propriedade.
Controvérsia
também motivou o negócio imobiliário feito numa zona nobre de Santa Cruz.
Segundo o referido diário, aquela a fundação de utilidade pública, sem fins
lucrativos, comprou em finais de 2002 a Quinta Escuna por 448 mil euros (valor
escriturado) e vendeu a propriedade com seis mil metros quadrados a um
empresário ligado ao PSD pelo triplo (1,25 milhão de euros), numa operação
isenta de impostos ao fisco para ambas as partes. Foi ventilada a hipótese de a
câmara municipal instalar serviços no projectado empreendimento.
Uma
das últimas aquisições da FSDM foi a casa onde Jardim residiu durante 30 anos,
no Quebra-Costas, para aí instalar um museu dedicado ao líder madeirense, com
exposição das placas, medalhas e outros objectos oferecidos ao governante. A
transacção por 140 mil euros ficou igualmente isenta de IMI e outros impostos.
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